Título: EUA devem ficar sem parceiro leal
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2006, Internacional, p. A10

A hemorragia cerebral sofrida por Ariel Sharon ameaça deixar o governo dos EUA sem seu principal parceiro no Oriente Médio, lançando dúvidas sobre a promessa do presidente George W. Bush de ajudar a criar um Estado palestino antes do fim do mandato. Grande parte da política de Washington para o conflito israelense-palestino, como a decisão de 2002 de excluir o então líder palestino Yasser Arafat do diálogo, foi influenciada por Sharon. Ele também convenceu Bush a apoiar a retirada da Faixa de Gaza, ganhando de Washington o compromisso tácito de reconhecer que Israel poderia manter grandes colônias na Cisjordânia. O consenso entre Bush e Sharon causou inicialmente uma reação furiosa no mundo árabe. Mas Sharon levou seu plano até o fim, dividindo seu partido Likud e permitindo que alguns Estados árabes tentassem a aproximação diplomática com Israel.

Numa declaração na quarta-feira à noite, Bush elogiou Sharon como "um homem de coragem e paz" e afirmou que ele e a primeira-dama, Laura Bush, estão "rezando por sua recuperação".

No entanto, embora Sharon e Bush tenham se encontrado uma dezena de vezes, funcionários americanos e israelenses dizem que a relação, em geral, tem sido cordial, mas não especialmente calorosa. O conflito israelense-palestino é tão sensível politicamente, nos campos doméstico e internacional, que os dois líderes tramaram cuidadosamente suas reuniões formais. Sharon, em particular, quis se concentrar em questões políticas mesmo quando Bush tentou estabelecer uma relação de caráter mais pessoal.

Dois primeiros-ministros do Likud já haviam caído depois de entrar em choque com líderes americanos. Assim, Sharon manobrou cuidadosamente a política americana em favor de seus objetivos - ao mesmo tempo anunciando apoio aos objetivos declarados dos EUA, mesmo que fosse contra sua vontade.