Título: Olmert não é considerado um substituto à altura
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2006, Internacional, p. A10

Ehud Olmert, um rude operador político, foi o mais firme aliado de Ariel Sharon durante a metamorfose do primeiro-ministro israelense, que passou de linha-dura a moderado. Com a doença repentina de Sharon, Olmert assumiu o poder, com uma expressão sombria, tentando transmitir continuidade, mas reconhecendo, numa sessão do gabinete, que o país está numa situação grave.

"Arik não é só um primeiro-ministro e um líder, mas também um amigo íntimo de todos nós", disse Olmert, usando o apelido de Sharon. "É um momento difícil e ficaremos unidos." A grande cadeira de Sharon no centro da longa mesa do gabinete foi deixada vazia, num sinal da natureza temporária da nova posição de Olmert.

Se Sharon continuar incapacitado depois do derrame, Olmert poderá ser um dos principais candidatos a primeiro-ministro nas eleições gerais de 28 de março. Mas o político, de 60 anos, provavelmente nunca será tão popular quanto seu mentor, o que deixa num limbo político o futuro do partido centrista Kadima, criado por Sharon.

Olmert foi o maior defensor de Sharon quando o primeiro-ministro retirou os colonos e soldados israelenses da Faixa de Gaza, em setembro. Quando outros membros do partido linha-dura Likud se voltaram contra Sharon por causa da retirada, Olmert permaneceu a seu lado.

Também foi o batedor de Sharon, introduzindo idéias antes que elas se transformassem em políticas. Ele costumava dar entrevistas aos jornalistas antecipando medidas polêmicas que muitas vezes o primeiro-ministro acabava pondo em prática (o próprio Sharon dá entrevistas apenas em poucas ocasiões no ano).

"Olmert pode receber crédito por ter patrocinado o desengajamento (o plano de retirada de Gaza) antes de Sharon. Ele serviu como sua vanguarda ao apresentar o plano ao público", disse o analista Yossi Alpher.

O novo chefe de governo foi eleito pela primeira vez para o Parlamento aos 28 anos, servindo por sete mandatos e ocupando vários cargos ministeriais. Naqueles anos, ele foi investigado por corrupção em várias ocasiões, mas nunca foi condenado.

Eleito prefeito de Jerusalém em 1993, Olmert ocupou o cargo por dez anos, apoiando as iniciativas para assentar israelenses em Jerusalém Oriental, a parte árabe da cidade onde vivem 200 mil palestinos. A parte árabe foi ocupada por Israel durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, e é reivindicada pelos palestinos como capital de seu futuro Estado.

Em 1996, Olmert abriu um túnel junto de um disputado local sagrado de Jerusalém, a Esplanada das Mesquitas (ou Monte do Templo, para os judeus) motivando choques entre israelenses e palestinos que duraram dias e deixaram 80 mortos.