Título: Chances de Sharon são mínimas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2006, Internacional, p. A10

Depois de ser submetido a uma operação de sete horas de duração, o primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, de 77 anos, continuava ontem em situação crítica e permanecerá sedado e com respiração artificial por mais 48 horas, quando os médicos esperam fazer uma avaliação de seu quadro. "Estamos lutando por sua vida, sem concessões", disse o diretor do Hospital Hadassah Ein Karem, Shlomo Mor-Yosef, em Jerusalém, onde o primeiro-ministro permanece internado na Unidade de Terapia Intensiva. Mor-Yosef insistiu que os sinais vitais de Sharon são estáveis e negou persistentes rumores em Israel de que ele esteja sendo mantido vivo artificialmente.

Quando jornalistas lhe perguntaram se Sharon teria condições de voltar ao trabalho, o Mor-Yosef respondeu que, no momento, previsões para o futuro são quase impossíveis de fazer: "Não podemos saber quais serão os resultados da cirurgia, se ele terá sua habilidade motora ou sua habilidade para pensar afetadas. Somente depois que ele sair do coma induzido teremos condições de fazer uma avaliação."

O chefe do hospital acrescentou que um dado positivo é o fato de as pupilas de Sharon estarem respondendo aos sinais de luz "o que significa que a mente está funcionando".

Diante do quadro apresentado pelos médicos do hospital, vários neurologistas indicaram ontem que as chances de ele sobreviver, ou de se recuperar plenamente, são bem pequenas.

Derrames hemorrágicos como o que Sharon sofreu quarta-feira, quando foi levado para o hospital, se caracterizam por sangramento no cérebro e são menos comuns que os derrames causados por coágulos sanguíneos, mas geralmente são mais letais. Aproximadamente 17% dos derrames são causados pela ruptura de um vaso sanguíneo fragilizado no cérebro, e menos da metade dos que sofrem esses derrames sobrevivem além de um mês, segundo a American Heart Association. Além disso, muitos dos que sobrevivem sofrem danos debilitadores como paralisias e distúrbios de fala. "Esta é, provavelmente, uma das condições neurológicas mais críticas que enfrentamos", disse o dr. David S. Liebeskind, especialista em derrames da Universidade da Califórnia. "Trata-se de uma doença muito grave e, infelizmente, comum."

A condição de Sharon é agravada pelo fato de que ele está acima do peso, sofre de hipertensão e vinha sendo tratado com anticoagulantes depois do derrame leve que sofreu em 18 de dezembro. Na ocasião, ele teve alta dois dias depois e retomou suas funções no governo.

Médicos israelenses iniciaram uma polêmica sobre se os anticoagulantes teriam causado o segundo derrame. Isto porque esses remédios reduzem a capacidade de o sangue coagular e selar naturalmente qualquer vazamento que possa ocorrer num vaso do cérebro, tornando o episódio de sangramento pior do que seria sem eles.

Mor-Yosef defendeu a decisão dos médicos de tratarem Sharon com anticoagulantes e de o levarem de sua fazenda, no sul do país, para Jerusalém em uma ambulância, um trajeto que levou 30 minutos a mais do que se ele tivesse sido encaminhado para um hospital de Bersheva, cidade mais próxima. Para o médico, era melhor que Sharon fosse para um hospital que conhecia seu caso.

As chances de Sharon sobreviver ao derrame são provavelmente inferiores a 20%, na estimativa do dr. Philip Stieg, diretor do departamento de neurocirurgia do Weill Cornell Medical College, em Nova York. "É altamente improvável que ele saia dessa com capacidade de andar, de conversar", disse Stieg. "Estamos falando de uma pessoa de 77 anos morbidamente obesa. Os prognósticos são extremamente sombrios."

Ontem a TV e a rádio israelense transmitiram músicas tristes e interrompiam a programação para dar os últimos boletins médicos ou informações sobre o quadro político do país (a Justiça manteve a data de 28 de março para as eleições parlamentares). O hospital Hadassah recebeu milhares de mensagens de solidariedade e os rabinos pediram aos israelenses que fossem às sinagogas rezar por Sharon.

Seguindo a legislação de Israel, o vice-primeiro-ministro Ehud Olmert assumiu na quarta-feira a chefia do governo. Ontem ele realizou uma reunião de emergência com o gabinete. Antes da doença de Sharon, o Likud anunciara sua decisão de deixar o governo, mas ontem resolveu permanecer.

Dois rabinos visitaram Sharon, no fortemente vigiado sétimo andar do hospital, e rezaram ao lado de seus dois filhos, Omri e Gilad.