Título: Por telefone, Lula e Chirac discutem reunião para aparar arestas na OMC
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2005, Economia & Negócios, p. B9

O presidente da França, Jacques Chirac, telefonou para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para conversar sobre a proposta apresentada pelo Brasil de que, o quanto antes, se possível em janeiro, seja realizada uma reunião de chefes de Estado para reforçar as negociações da Rodada Doha, da Organização Mundial de Comércio (OMC). Chirac fez ponderações em relação ao formato do encontro proposto por Lula. "A preocupação (de Chirac) é que esta reunião não ficasse parecendo que alguns estavam decidindo por muitos", declarou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. "O presidente Lula acentuou que naturalmente os países mais pobres, os países africanos, de alguma maneira, deveriam estar envolvidos nesta negociação."

De acordo com Amorim, foi apenas "uma troca de idéias sobre o tema que ainda será desenvolvido". Chirac, disse o ministro, ficou de pensar sobre o assunto e disse que haveria uma nova conversa, mas não precisou quando.

Amorim não quis afirmar, mas a conversa de Lula com Chirac não repetiu o mesmo entusiasmo dos entendimentos entre o presidente brasileiro e o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, ou com o primeiro ministro inglês, Tony Blair. Mas ele considera que as negociações estão adiantadas. "A visão do presidente Lula é de que fizemos avanços importantes em Hong Kong, sobre vários aspectos, indiscutivelmente, inclusive com relação aos países mais pobres."

"Há ainda uma brecha que precisa ser preenchida que, na realidade, só com o envolvimento dos líderes é que vai poder avançar. Os negociadores só podem ir até certo ponto", explicou. Segundo Amorim, se todos receberem mandatos novos, ótimo, mas, se não, a reunião seria fundamental.

SEM AGRESSÃO

Ele afirmou não ter sentido nenhuma agressividade por parte de Chirac ou do Brasil, principalmente em relação à questão dos subsídios. "Foram posições políticas", assegurou.

Para ele, o telefonema foi uma resposta de Chirac à ligação que o presidente Lula tentou fazer para ele, antes da reunião de Hong Kong e não conseguiu porque o presidente francês estava muito ocupado com o Conselho Europeu, mas o objeto do telefonema continuou válido porque sempre se poderá retomar o tema da possível reunião de líderes mais adiante.

Amorim comentou ainda que os presidentes falaram sobre combate à fome e Lula ligou esse tema à questão comercial. Conversaram ainda sobre uma reunião de ministros que será realizada na França, discutir a taxação dos bilhetes aéreos para que esses recursos sejam aplicados no combate à fome e à aids.