Título: Filas ainda atormentam segurados do INSS
Autor: Rodrigo Gallo
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2005, Economia & Negócios, p. B7

Apesar das promessas de Lula, milhares de pessoas varam madrugadas nas portas dos postos

No dia 24 de novembro, em entrevista a rádios de São Paulo e do Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que iria acabar com as filas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em 2006. Logo na seqüência, o ministro da Previdência Social, Nelson Machado, foi obrigado a desmentir a promessa de Lula, criando constrangimento entre os dois. "Nosso compromisso é reduzir as filas", ressaltou Machado, minimizando a expectativa que o presidente insistia em repetir. Quase um mês depois da saia-justa, o problema das filas nos postos da Previdência ainda atormenta a vida dos segurados, que muitas vezes são obrigados a passar a madrugada na porta das agências. Um dos segurados que enfrentou a fatídica fila na madrugada de quarta-feira é o gráfico José Orivaldo Silva, 55 anos, que passou mais de dez horas na porta da agência da Rua Santa Marina, na Lapa, Zona Oeste da Capital. E o pior: mesmo após a longa espera, não conseguiu resolver o problema.

Silva já tinha buscado atendimento no posto na manhã de terça-feira, mas, como chegou tarde, não conseguiu nenhuma senha. Por isso, foi aconselhado por um segurança da agência a pegar a fila na noite de terça-feira, para retirar uma das primeiras senhas e garantir que seria atendido.

"Cheguei ao posto às 18h50 de terça-feira. Choveu demais durante boa parte da madrugada e só não me molhei muito porque consegui um guarda-chuva emprestado de outra segurada", relatou. Ainda assim, as longas horas de espera na madrugada foram cansativas. "Foi uma noite terrível. Não quero passar por isso nunca mais."

Silva, porém, terá de voltar à agência no início de 2006. Ele não conseguiu passar pela perícia médica, embora tenha conseguido a senha número 6. O gráfico precisava passar pela avaliação para saber se poderá ou não se aposentar. "Só que remarcaram minha perícia e agora terei de voltar em 10 de janeiro. E nem me explicaram o motivo" lamentou. "Não agüento mais ter de voltar às filas."

Silva está afastado do trabalho desde maio de 1998, quando teve uma infecção no ouvido que o levou à mesa de cirurgia. Desde então, o INSS tem pago a ele um auxílio-doença. No entanto, antes mesmo que se recuperasse, Silva passou a ter problemas na perna. Novamente, teve de passar por uma operação, desta vez para colocar uma prótese na cabeça do fêmur. "Pensei que dessa vez ia resolver tudo e conseguir a aposentadoria."

Até a noite de ontem, o INSS não havia informado os motivos que atrasavam a liberação da aposentadoria do gráfico.

GREVE PODE ACABAR

A paralisação dos peritos médicos credenciados do INSS pode terminar em breve. A Comissão Representativa do Congresso Nacional aprovou a liberação de R$ 63 milhões para o pagamento dos profissionais, que estão com os salários atrasados desde julho.

A categoria, de acordo com o presidente da Associação de Médicos Peritos Credenciados do INSS (AMPCI), Antônio Eraldo, cruzou os braços em 25 de outubro. Desde então, cerca de 100 mil perícias deixaram de ser realizadas, segundo estimativas da entidade. "Vamos esperar para ver como a Previdência vai nos pagar. Só voltaremos a atender aos segurados quando o governo acertar as dívidas", alertou.

Em São Paulo, a greve atinge cerca de 500 médicos em todo o Estado, segundo a associação da categoria. A Superintendência Estadual do INSS afirma que 77 dos 713 profissionais do Estado estão parados. Para o instituto, pouco mais de 28 mil perícias haviam sido remarcadas até a tarde de ontem, por conta da greve.