Título: Usineiros criticam falta de estoques
Autor: Gerusa Marques
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2006, Economia & Negócios, p. B1

O presidente da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Eduardo Pereira de Carvalho, criticou o governo federal e afirmou que um dos principais motivos da volatilidade dos preços do álcool combustível no País é a falta de um estoque regulador. "Estamos cansados de alertar o governo da necessidade de um mecanismo que controle a elevada flutuação dos custos. Mas só se põe o dedo na nossa cara quando o preço está lá em cima. Quando cai, ninguém fala nada", afirmou. Segundo ele, o preço médio ao produtor em 2005, deflacionado pelo IGP-M, é o segundo menor em seis anos. O problema é que há uma grande oscilação. No início da safra, quando os usineiros precisam de dinheiro para a produção, o preço do combustível despenca. Em maio deste ano, o litro do álcool ao produtor custava R$ 0,57298, sem os impostos. O valor foi subindo durante o ano e atingiu a máxima de R$ 1,007 no final de dezembro, período considerado de entressafra.

Nesta época do ano, já é tradicional haver um aumento maior dos preços. Em 2004, por exemplo, o litro do álcool para o consumidor subiu até mais que neste ano entre o início e o fim da safra. O preço saltou de R$ 1,052, em maio, para R$ R$ 1,437, em dezembro - acréscimo de 36,6%. Neste ano, o valor avançou 16,29%, de R$ 1,332 para R$ 1,549.

Na avaliação de Carvalho, se o governo resolvesse adotar o mecanismo de estoque regulador, não haveria tanta discussão nem oscilação dos preços. "Durante a safra, ele compraria o combustível e não deixaria o valor cair tanto. Já na entressafra, colocaria o produto no mercado evitando que houvesse uma explosão nos preços." Ele afirma que no mundo o mecanismo de estoque regulador é adotado quando se trata de derivados de produtos agrícolas.

O presidente da entidade que representa os usineiros de São Paulo - Estado responsável por mais de 75% da produção nacional - afirma que não teme a ameaça de intervenção por parte do governo. "O setor está pronto para assumir compromissos." Mas alerta: a gasolina pode aumentar se a mistura com o álcool anidro for reduzida de 25% para 20%.

Carvalho afirma que o aumento do número de carros bicombustíveis no País dá maior flexibilidade ao mercado, porque permite que o consumidor possa optar entre a gasolina e o álcool, dependendo do preço dos combustíveis. "Hoje o único regulador do mercado nesse setor é o consumidor", afirmou o diretor-técnico da Unica, Antonio de Pádua Rodrigues.