Título: Especialistas atacam proposta de intervenção
Autor: Gerusa Marques
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2006, Economia & Negócios, p. B1

A intenção de intervir no mercado de álcool e impor teto para o preço do combustível é criticada por especialistas. A avaliação é que o setor deve ser acompanhado com lupa pelos órgãos de defesa da concorrência, mas o mercado é livre e, como tal, está exposto à lei da oferta e da demanda e a questões sazonais. "Quando falta produto, o preço sobe mesmo. Intervir nisso pode trazer problemas no futuro", comenta o professor do Ibmec Cláudio Considera. Ele comandou a Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda no governo FHC e acredita que o atual governo terá de garantir preços mínimos para os produtores no período de safra, caso decida impor um teto agora. Do contrário, a rentabilidade das usinas será prejudicada e comprometerá investimentos futuros. "Uma intervenção cria artificialidades difíceis de serem revertidas", concorda o professor da UFRJ, Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE).

"Nos Estados Unidos, o preço da gasolina dispara no verão, mas o governo nunca fala em intervir ou negociar um teto", compara Pires, lembrando que oscilações de preços sazonais são comuns em mercados de commodities. "Quem deve regular é o consumidor que, com carros bicombustíveis, deixará de comprar álcool quando o preço estiver alto." Com a queda nas vendas, a tendência é os preços caírem naturalmente.

Para Considera, mexer no porcentual de anidro na gasolina é mais eficaz para evitar picos de preços como o que ocorre agora. "É uma maneira de regular o mercado sem intervenção ou subsídio." Ele sugere que o porcentual seja estabelecido segundo o período do ano, se aproximando dos 25% na época de safra e dos 20% na entressafra. Dessa forma, o governo regularia preços por meio do controle da demanda, sem intervenção direta nos negócios dos usineiros. A redução do anidro na gasolina, porém, tem um revés: segundo a União da Agroindústria Canavieira (Unica), uma redução para 20% provocará aumento de 1% no preço da gasolina, produto com maior peso na nova composição do índice oficial de inflação, o IPCA.

A intervenção é defendida só em caso de cartelização. "Tem de ver se estão combinando preço ou segurando estoques para forçar alta", diz Considera. Ele não acredita que esteja ocorrendo isso.