Título: Consumidor já vê juro em queda
Autor: Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2005, Economia & Negócios, p. B4

Taxa do crédito para pessoas físicas chega a 60,4%, a menor dos últimos 11 anos

Em entrevista concedida há alguns meses, o presidente do Bradesco, maior banco privado do País, Márcio Cypriano, defendeu o fim do cheque especial no Brasil. Sustentou que é preciso conscientizar a população de que o cheque especial não é uma linha de crédito, mas uma alternativa para situações de extrema necessidade e por determinados períodos. A modalidade tem uma das maiores taxas de juros do mercado, ao lado do cartão de crédito. Na avaliação do vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Contabilidade e Administração (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira, não há explicação para taxas tão elevadas como as que são cobradas no Brasil. Apesar disso, ele afirma que o juro do cheque especial é mais alto que o das demais modalidades por causa da falta de competição e pelo risco elevado. Os clientes têm crédito aprovado à disposição para qualquer momento, diz ele. O problema é que o limite de crédito normalmente é concedido por ocasião da abertura da conta. "Nesse momento o cliente pode não representar risco de inadimplência, mas três semanas depois pode estar com problema financeiro." Os cortes feitos pelo Banco Central (BC) na taxa básica de juros, a Selic, a partir de setembro deste ano começaram a chegar ao consumidor em novembro. Depois de três meses seguidos de alta, a taxa de juros média dos empréstimos bancários em geral caiu para 47,1% ao ano em novembro. Em outubro, estava em 48,2% ao ano. No caso do crédito para pessoas físicas, chegou a 60,4%, a menor nos últimos 11 anos. A informação foi divulgada ontem pelo BC.

Os bancos também deram uma contribuição para esse movimento de redução nos juros cobrados do consumidor, embora não na mesma proporção da queda da Selic. Segundo o BC, o spread bancário - que é a diferença entre o que os bancos pagam pelo dinheiro e o que cobram para emprestá-lo - caiu 0,5 ponto porcentual em novembro ante outubro, atingindo 29,3% ao ano na média geral. Na comparação com setembro, entretanto, o spread ficou praticamente estável, enquanto o custo para os bancos captarem dinheiro para emprestar caiu quase 1 ponto porcentual.

"Em um mês que em que as festas de fim de ano influenciam o aumento no volume de crédito, a boa notícia é a queda na taxa de juros, após seguidas elevações que ocorreram desde o início do ano", afirmou o diretor-executivo do Instituto de Desenvolvimento do Varejo, Aprígio Rello Júnior, que faz uma ressalva de que as taxas no Brasil ainda são muito altas para os padrões internacionais.

No movimento de queda nos juros ao consumidor em novembro o maior destaque foi o crédito para pessoas físicas, cuja taxa média caiu 1,3 ponto percentual, alcançando 60,4%. Embora muito alta, a taxa de novembro foi a menor desde julho de 1994, quando se inicia a série histórica do BC, segundo o chefe do Departamento Econômico (Depec) do BC, Altamir Lopes. "A tendência é que esse recorde seja batido nos próximos meses com as reduções na taxa básica de juros."

Todas as modalidades de crédito para pessoa física tiveram redução de custo para o consumidor, à exceção do cheque especial, que subiu de 148,6% em outubro para 149,2% ao ano em novembro. Usando uma expressão cara à equipe econômica, Altamir afirmou que a alta do cheque especial foi "um ponto fora da curva", ou seja, um evento pontual, provocado pela elevação nas taxas de um único banco. "Em dezembro a taxa do cheque especial já está caindo 2,2 pontos porcentuais, alcançando 147% ao ano", acrescentou.

O custo do dinheiro também caiu para as empresas, passando de 33,4% em outubro para 32,4% em novembro. Nesse grupo, o maior destaque foi a queda de 3,3 pontos porcentuais na taxa média do capital de giro, para 35,4% ao ano. Somente a conta garantida, uma espécie de cheque especial das empresas, não teve redução na taxa de juros, ficando praticamente estável em relação a outubro.

Como é típico de fim de ano, o volume de empréstimo do sistema financeiro cresceu 2,4%, atingindo R$ 589,758 bilhões. Esse valor representa 30,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Embora ainda muito abaixo dos padrões internacionais, a relação entre crédito e PIB é a mais alta desde fevereiro de 2005. E, para Altamir, tende a crescer nos próximos meses, com o processo de queda na taxa de juros e com o crescimento econômico em ritmo mais acelerado do que neste ano.