Título: Requisito para o crescimento
Autor: Áurea Rangel
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2005, Economia & Negócios, p. B2

Independentemente das distintas previsões relativas à sua expansão econômica, a América Latina tem de vencer o desafio condicionante à sua capacidade de ingressar num ciclo duradouro de crescimento. Trata-se do desenvolvimento da infra-estrutura. É o que se pode concluir em estudo da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), que indica: até 2010, a região terá de investir cerca de US$ 70 bilhões no setor para que a sua economia evolua ao ritmo de 3% por exercício. Em alguns segmentos, em especial energia elétrica e rodovias, o aporte de capital precisará ser ainda maior, abrangendo quase 1% do produto interno bruto (PIB) do Continente. Reconhecidamente, os governos não têm capacidade para fazer frente ao desembolso de tamanhos recursos. Para a Cepal, contudo, o setor privado também não apresenta condições de bancar as grandes quantias necessárias ao desenvolvimento e à multiplicação da infra-estrutura. Por isso, o relatório aponta a imperiosa necessidade de as nações criarem marcos regulatórios para facilitar o trabalho dos empresários. Em bom português, as chamadas Parcerias Público-Privadas (PPPs), que possibilitam o compartilhamento dos investimentos. O histórico e as estatísticas das rodovias no Brasil são exemplo que atestam a carência de infra-estrutura, avalizando as conclusões do relatório da Cepal. Em 1954, o País tinha apenas 1,2 mil quilômetros de estradas asfaltadas. Em 1970, eram 50 mil quilômetros e, em 1990, 148 mil. Hoje, a população mais do que dobrou em relação a 1970 (passando de 90 milhões para 190 milhões de habitantes), mas temos apenas 150 mil quilômetros de rodovias pavimentadas, em cerca de 8 milhões de quilômetros quadrados de território. O minúsculo Japão tem 790 mil quilômetros; a Itália, 300 mil; a Austrália, 250 mil. No Brasil, há 19 quilômetros de rodovias por mil quilômetros quadrados de território. Nos Estados Unidos, a proporção é de 373 quilômetros e na África do Sul, 44. Mesmo que se desconte a Amazônia, onde ainda é muito escassa a presença de estradas, o índice de cobertura rodoviária brasileira continua ínfimo, apesar do significado imenso do transporte rodoviário na movimentação de pessoas e cargas. Dada a importância e a premência dos investimentos em infra-estrutura, além das parcerias entre governos e companhias privadas, é fundamental o apoio de organismos multilaterais de crédito. O Banco Mundial (Bird), por exemplo, concedeu crédito de US$ 150 milhões à Argentina para programas de investimentos em estradas, abrangendo as Províncias de Chubut, Corrientes, Córdoba, Entre Rios, Neuquén e Santa Fe. O projeto também melhorará a qualidade de rodovias estratégicas para o transporte da produção entre sua origem e os mercados. Este aspecto é muito importante. Os investimentos em rodovias, além de fundamentais para a garantia do crescimento econômico, como analisa a Cepal ao enfocar o gargalo latino-americano nessa área estratégica, apresentam alto retorno para os que aportam capital. Algumas estatísticas brasileiras confirmam isso. O setor de logística movimenta cerca de US$ 100 bilhões no País, considerando toda a cadeia - fornecedores, armazenagem, movimentação interna e distribuição. Somente em 2004, transportaram-se 1,2 bilhão de toneladas de cargas no Brasil. Quanto esse volume de mercadorias terá pago de pedágios para passar pelas rodovias? Ou seja, os recursos necessários às obras de infra-estrutura rodoviária são elevados, mas o retorno do capital é garantido.