Título: 'Quitar dívida foi um avanço'
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2006, Economia & Negócios, p. B5

O diretor-gerente do fundo de investimentos Pimco, Mohamed El-Erian, em artigo publicado ontem no jornal inglês Financial Times, afirma que a decisão do Brasil de pagar antecipadamente sua dívida com o Fundo Monetário Internacional e com o Clube de Paris demonstra a melhora da situação do País. Além disso, a iniciativa brasileira sinaliza a maior confiança que os países emergentes demonstram em sua atuação na economia mundial. O analista observa que isso representa um desafio para os protagonistas mais tradicionais da economia internacional, como o G-7 e o FMI, que precisam se adaptar à nova estrutura do sistema global. Segundo El-Erian, a decisão do Brasil de quitar suas dívidas com o Fundo e com o Clube de Paris reflete a rápida melhora da posição de suas reservas internacionais, provocada por um amplo superávit comercial, crescente fluxo de investimento estrangeiro e fluxos de portfólios elevados. "É também resultado do gerenciamento financeiro prudente que, consistente com a crescente riqueza do País, enfatiza agora técnicas de gerenciamento dos ativos e dívidas mais sofisticadas", disse.

El-Erian observa que esse fenômeno não está limitado ao Brasil. Está ocorrendo em vários outros países emergentes e deverá se espalhar ainda mais. "Por causa disso, vários países deverão provavelmente se juntar ao BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), tendo maior influência na economia global e nos fluxos financeiros", disse. "Isso vale particularmente para os exportadores de petróleo e, numa extensão menor, para a Argentina, que também está quitando sua dívida com o FMI."

Estrategistas em Nova York afirmam que tem ocorrido um substancial aumento de exposição ao real no mercado futuro, na esteira da onda de otimismo que tem valorizado os ativos brasileiros nos últimos dias.

No entanto, o analista Clyde Wardle, do HSBC, observou que essa maior posição "vendida" em dólares entre os estrangeiros não se restringe ao Brasil, mas atinge vários países emergentes.

"Notamos um aumento da exposição dos portfólios aos emergentes nos últimos dias em várias regiões, como na Ásia por exemplo", disse Wardle. Ele observou que os resultados robustos da balança comercial dão sustentação ao real.