Título: Baixo crescimento impede queda mais forte do risco
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2006, Economia & Negócios, p. B5

As taxas de juros reais têm de cair, a economia voltar a crescer, e as reformas econômicas serem retomadas para que o risco Brasil desça ao nível do risco de países como Rússia, México ou Chile (ver gráfico). Ontem, o risco Brasil subiu para 297 pontos (de 291 na quarta), mas permaneceu próximo ao nível mais baixo desde que o indicador foi criado pelo JP Morgan na primeira metade dos anos 90. Na opinião de diversos analistas, o que falta para o Brasil ingressar no clube de economias emergentes de risco muito baixo, e "grau de investimento" em pelos menos uma das três agências internacionais de rating, é uma melhora substancial na percepção dos investidores sobre a capacidade de crescimento do País. Isto, por sua vez, depende de juros mais baixos e de um novo ciclo de reformas para azeitar o funcionamento da economia de mercado. Se o País crescer a um ritmo de 5% ao ano e os juros reais caírem, a relação entre a dívida pública e o PIB vai diminuir rapidamente, e os temores de calote ficarão no passado.

"O Brasil tem fundamentos melhores (do que países como a Rússia e a Turquia) em diversos aspectos, o que deve começar a ficar mais evidente à medida que as taxas de juros caírem", diz Kenneth Rogoff, professor de Harvard e ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Ele nota que a economia russa é muito menos dinâmica e diversificada do que a brasileira. De outro lado, a Rússia, que está com risco de 109 pontos, é beneficiada pelo fato de ter muito petróleo e outras matérias-primas em alta. As reservas internacionais do país já alcançaram US$ 150 bilhões (comparado a cerca de US$ 55 bilhões do Brasil). Rogoff acha que a Turquia (risco de 216) ainda está sendo beneficiada pela perspectiva de entrada na União Européia (UE), o que faz com que os indicadores do país tendam a convergir para o nível médio daquele bloco.

Otaviano Canuto, diretor executivo no Banco Mundial, eleito pelo Brasil e mais oito países, observa que, em termos de contas externas, os indicadores brasileiros já convergiram para um nível compatível com o grau de investimento das agências de rating, o que justificaria um risco substancialmente mais baixo. De outro lado, na parte fiscal e da relação entre a dívida pública e o PIB, o Brasil melhorou menos. Canuto nota, por exemplo, que "a Rússia teve uma evolução estupenda, depois da moratória de 1998, em termos de aumento da capacidade tributária e de redução da relação dívida/PIB".

Para Fábio Akira, economista do JP Morgan, o baixo crescimento é um fator que freia a queda do risco Brasil. Ele observa que a agenda de reformas microeconômicas não avança, e que o País ficou em 119.º lugar numa lista de 155 países em termos de ambiente de negócios, em pesquisa do Banco Mundial.