Título: Inflação do IGP-DI é a menor desde 1945
Autor: Alessandra Saraiva
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2006, Economia & Negócios, p. B6

O dólar baixo levou a inflação medida pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) a atingir em 2005 o menor patamar de sua história, iniciada há 61 anos. O indicador, usado para reajustar tarifa de telefone, fechou o ano passado com alta de 1,22% - quase dez vezes abaixo do resultado de 2004 (12,14%). Segundo informou ontem a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a intensa valorização do real ante o dólar beneficiou a inflação no atacado e no varejo, reduzindo os preços de vários produtos relacionados à moeda americana - principalmente as commodities. A taxa de 2005 também foi beneficiada pelo resultado do IGP-DI de dezembro, que apresentou alta de apenas 0,07%, ante 0,33% em novembro, devido à deflação nos preços dos combustíveis no atacado (-2,17%). "Mas acho difícil que uma taxa anual tão baixa possa se repetir em 2006", disse o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros. Para ele, a valorização cambial registrada no ano passado foi atípica e muito forte.

O economista comentou, porém, que o resultado terá impactos expressivos no cenário da inflação em 2006. Além de ser um estímulo a mais para o Banco Central (BC) continuar a reduzir a taxa básica de juros (Selic), a inflação baixa em 2005 conduzirá a uma taxa acumulada em 12 meses muito baixa, ao longo do primeiro semestre deste ano. O consumidor sairá ganhando, pois a taxa acumulada do IGP-DI é usada para reajustar várias tarifas e preços administrados.

Quadros citou como exemplo a telefonia fixa. Segundo ele, o governo usará neste semestre o indicador da FGV, junto com um índice setorial, para efetuar o cálculo do reajuste da tarifa. Com o resultado menor no acumulado do IGP-DI, o aumento de telefonia fixa neste ano pode ser metade do registrado em 2005, disse o economista. No ano passado, o reajuste foi de 5,53%.

Ao detalhar o impacto do câmbio na inflação em 2005, Quadros citou a siderurgia como um dos setores mais influenciados pelo dólar baixo. O segmento de ferro, aço e derivados no atacado fechou 2005 com queda de 7,29%, ante aumento de 57,66% no ano anterior. "Em 2004 tivemos um choque siderúrgico na inflação, que não se repetiu no ano passado."

O IGP-DI é o mais antigo indicador calculado pela FGV e um dos três principais índices calculados pela fundação. Graças à valorização cambial, os outros dois - o Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) e o Índice Geral de Preços-10 (IGP-10) - também encerraram 2005 com as menores taxas de suas histórias, e subiram 1,21% e 1,47%, respectivamente.

DEZEMBRO

Ao comentar o cenário da inflação em dezembro do ano passado, Salomão Quadros explicou que a queda nos preços dos combustíveis no atacado teve impacto de deflações nos preços de óleos combustíveis (-10,70%) e querosene para motores (-9%). "Esses preços caíram como reflexo na queda momentânea nos preços do petróleo no mercado internacional." Com isso, os preços do atacado caíram 0,14% no último mês do ano, ante aumento de 0,24% em novembro.

No varejo, os preços subiram menos, com alta de 0,46% em dezembro, ante 0,57% em novembro, devido à desaceleração nos preços de alimentação (de 1,42% para 0,75%). Na Construção Civil, os preços subiram 0,37% em dezembro, ante 0,28% em novembro.