Título: Funcionários da Varig vetam negociação e Tanue desiste
Autor: Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2006, Economia & Negócios, p. B12

A Docas Investimentos, do empresário Nelson Tanure, desistiu ontem de comprar o controle da Varig da Fundação Ruben Berta (FRB), acionista majoritária da companhia. Essa negociação já havia sido vetada pelos credores da empresa e pelo Tribunal de Justiça do Rio. O maior poder de decisão dentro da Varig, o Colégio Deliberante da FRB, também disse não a Tanure ontem. Dos cerca de 150 funcionários que integram essa instância, 89% votaram contra a negociação em assembléia. Entre as justificativas para sua desistência, ele disse ser "vítima" da imprensa, alegando uma suposta campanha difamatória protagonizada pelo Estado, segundo o relato de várias pessoas que ouviram seu discurso.

Apesar de retirar sua proposta de pagar em dez anos US$ 112 milhões por 25% da Varig, mais o aluguel de 42% das ações da FRB-Par, holding que tem 87% das ações da empresa, Tanure diz estar preparado para brigar pela compra das subsidiárias VarigLog (logística e cargas) e Varig Engenharia e Manutenção (VEM). "Vamos bater, não vamos mais apanhar. Os que batem não sabem apanhar", diz, por meio do assessor da presidência da Docas, Demétrius Guiot.

O presidente da Varig, Marcelo Bottini, lembra que há ainda o interesse da estatal portuguesa TAP e do fundo americano de investimentos Matlin Patterson em arrematar a VarigLog e VEM. As duas subsidiárias foram compradas pelos portugueses em novembro, por US$ 62 milhões. Em dezembro, um leilão para elevar o preço das duas teve a participação do Matlin, que ofereceu US$ 77 milhões pelas duas ou US$ 55 milhões apenas pela filial de logística. Tanure havia apresentado oferta de US$ 139 milhões pelas duas companhias e chegou a ser considerado o vencedor, mas foi prejudicado por decisão judicial que afastou a FRB do controle da Varig.

A proposta de Tanure foi desqualificada pela direção da Varig por não cumprir pré-requisitos. Agora, segundo Bottini, a idéia é vender a VarigLog ao Matlin e a VEM à TAP.

O presidente da Varig disse que terá de pagar US$ 56 milhões até o dia 12 para quitar dívidas com empresas de arrendamento. Segundo ele, já estão garantidos US$ 29 milhões. O restante virá da antecipação de recebíveis ou da devolução de uma garantia de US$ 30 milhões dada à Associação Internacional de Transporte Aéreo.

SDE RECOMENDA

A Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça recomendou ontem ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) que aprove a aquisição da VEM e VarigLog, subsidiárias da empresa aérea Varig, pela companhia aérea estatal portuguesa TAP. Essa avaliação da SDE não leva em conta o que foi negociado depois de novembro. O secretário de Direito Econômico, Daniel Goldberg, comentou que a análise técnica da SDE se limitou ao impacto concorrencial do negócio.