Título: Risco país é o mais baixo da história
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2005, Economia & Negócios, p. B1

Indicador caiu 19,63% este ano e ontem atingiu 302 pontos; em 2002, antes da eleição de Lula, passou de 2.300

O risco país brasileiro despencou 3,82% ontem para 302 pontos, o menor nível da história. Com isso, esbarrou na barreira psicológica dos 300 pontos, uma meta antes esperada apenas para o próximo ano. Esse indicador mede a percepção do investidor estrangeiro em relação à economia de um país e mostra quanto o Brasil paga a mais aos detentores de seus títulos, comparados aos papéis americanos. Quanto menor é o risco, menor é o custo de captação e melhor é a receptividade por papéis do País. Só neste ano, o risco Brasil caiu 19,63%, 10,88% no mês de dezembro. Em 2002, no período pré-eleitoral, quando ainda havia incerteza em relação à política econômica do governo Lula, o indicador passou da casa dos 2.300 pontos e contribuiu para pressionar o dólar, que chegou aos R$ 4,00. De lá pra cá, o risco passou por momentos de volatilidade, mas sempre com tendência de baixa.

Entre as explicações dos economistas para a brusca queda do indicador estão os bons fundamentos da economia do Brasil, que vem cumprindo à risca o dever de casa, afirma o economista-chefe da Corretora Ágora Senior, João Marcus Marinho Nunes.

Além da inflação perto da meta, as contas externas confortáveis e a atividade crescente (apesar da queda do Produto Interno Bruto no terceiro trimestre) influenciam a percepção de risco dos investidores. Mas, no ritmo atual, não será surpresa se o País atingir os 250 pontos em 2006, avalia Nunes.

Isso porque, além dos fundamentos econômicos, o mercado internacional vive momento de extrema liquidez, afirma o economista da LCA, Bráulio Borges. Com dinheiro sobrando, os investidores procuram melhores rentabilidades principalmente nos países emergentes, onde a taxa de juros é mais alta.

Neste cenário, o Brasil tem se mostrado um dos destinos preferidos dos investidores, já que a taxa de juro real é a maior do planeta. "Num mundo com ampla liquidez, o risco dos países emergentes é puxado para baixo." Os economistas afirmam, no entanto, que nos demais países o risco caiu para níveis bem abaixo do registrado no Brasil. No México, o indicador estava ontem em 121 pontos, na Turquia em 215 pontos, e na Rússia em 113 pontos.

Para o economista da Austin Rating Alex Agostini, a queda do indicador mostra que o Brasil está no caminho certo para conseguir a classificação de risco denominada "investment grade". Mas ainda falta muito para chegar a essa nota, avalia. Borges, da LCA, acrescenta que o País ainda precisa avançar bastante em alguns aspectos para ser beneficiado com essa classificação. "A posição fiscal, por exemplo, é muito fraca. A relação dívida/PIB do Brasil está em 52%, enquanto a de países com investment grade está em 28%", afirma o economista. Em contrapartida, se fossem analisadas apenas as contas externas, o Brasil já teria essa nota.

Apesar disso, o recuo do risco país - que não significa o investment grade - é uma ótima notícia para o Brasil. Isso porque eleva o volume de investimento no País, que também pode fazer captações no exterior a um custo menor sem inflacionar a economia brasileira.

Em 2002, quando o indicador disparou no Brasil por causa das incertezas eleitorais, o fluxo de investimento no País caiu por causa do aumento da percepção de risco. Isso provocou a alta do dólar, que pressionou os índices inflacionários.

Com isso, o governo foi obrigados a promover um aperto monetário no País, com aumento das taxas de juros, o queprejudicou a atividade econômica.