Título: EUA batem recorde de emissão de gás carbônico
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2005, Vida&, p. A18

Dados de 2004 contrariam discurso de controle dos gases do efeito estufa propagado por Bush e consolidam país como o maior poluidor do mundo

Os Estados Unidos bateram o recorde de emissão de gases do efeito estufa em 2004. A quantidade é 2% maior que a registrada no ano anterior e quase o dobro da média anual registrada desde 1990, anunciou o Departamento de Energia do país. As emissões bateram os 7,12 milhões de toneladas no ano passado; em 2003, o total atingiu 6,98 milhões de toneladas. O recorde, em comparação com o índice registrado em 1990, é 16% e indica um crescimento médio anual de 1,1%. Ainda não há dados compilados de 2005, mas especialistas esperam ainda mais gases lançados na atmosfera, graças ao crescimento econômico.

O relatório, divulgado na segunda-feira, consolida os americanos na posição de maiores poluidores do mundo, apesar dos esforços internacionais para reduzir globalmente a emissão de gás carbônico, metano e outros gases, que se acumulam e aquecem a Terra, provocando mudanças climáticas. Os Estados Unidos não participam do Protocolo de Kyoto, acordo entre países para combater o problema ambiental, e sua base energética prioriza combustíveis fósseis como carvão e petróleo.

Menos de duas semanas atrás, negociadores americanos alegaram, na Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que seu país controlou as emissões graças a diretrizes de redução voluntária lançadas pelo presidente George W. Bush.

Na realidade, houve só uma ligeira queda em 2001 e 2002, reflexo do desaquecimento econômico pelo qual os Estados Unidos passavam, da saída de empresas para outros mercados e do corte de emissão promovido por alguns setores industriais.

Para Lord Rees, presidente da Sociedade Real, academia científica independente da Grã-Bretanha, os novos dados mostram que todos os países industrializados - especialmente os integrantes do G-8, grupo dos países mais ricos - precisam intensificar os esforços para cortar as emissões de gases. Ele lembrou que seu país, apesar de ser um dos maiores defensores do tratado de Kyoto, também aumentou a quantidade de gases lançados na atmosfera nos últimos dois anos.

"Não devemos subestimar o desafio de alcançar crescimento econômico enquanto se reduz a emissão e os Estados Unidos não são o único país que luta para fazer isso", afirma Rees em uma nota. "Mas parece improvável que a estratégia atual americana de apenas ligar metas de emissão ao crescimento econômico, reduzindo a intensidade dos gases do efeito estufa, será suficiente."

Nesse ritmo, a taxa de emissão americana de gases do efeito estufa será, em 2012, 25% maior que a registrada em 1990.

OPOSIÇÃO

Correndo por fora, sete Estados do Nordeste americano (Connecticut, Delaware, Maine, New Hampshire, New Jersey, Nova York e Vermont) lançaram formalmente anteontem um programa de redução regional de emissões de usinas de energia. Eles concordam em cortar em 10%, até 2019, a quantidade de gás carbônico.

O acordo demorou dois anos e meio para ser costurado. Os sete governadores esperam que, na falta de incentivos federais para atacar o problema ambiental, outros Estados do país sigam seu exemplo.