Título: Tradução errada liberou uso de iscas humanas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2005, Vida&, p. A17

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) atribuiu ontem a realização de um experimento ilegal com ribeirinhos do Amapá a uma falha na tradução do projeto de um estudo sobre a dinâmica da transmissão da malária, feita por um pesquisador holandês que era professor visitante da Universidade de São Paulo (USP). A instituição negou que o projeto estivesse usando sistematicamente cobaias humanas, mas admitiu que, pelo menos uma vez, em junho de 2003, alguns dos 12 moradores selecionados para a pesquisa se deixaram picar por mosquitos selecionados por pesquisadores. Segundo a epidemiologista da Fiocruz Mércia Arruda, uma frase do texto original em inglês previa o procedimento, permitido em alguns países, mas proibido no Brasil. Por causa disso, ao traduzi-lo para o português, Jaco Voorham suprimiu a frase. No entanto, o coordenador do projeto, Robert Zimmerman, da Universidade da Flórida, se baseou na versão em inglês para fazer a experiência em 2003. Mércia contou que, alertado de que o procedimento era ilegal, ele abortou o experimento imediatamente.

Chama a atenção, porém, o termo de responsabilidade, com carimbo da Universidade da Flórida, assinado pelos ribeirinhos. Ele também foi traduzido para o português. Em um dos tópicos reaparece a previsão de que eles deveriam alimentar cem mosquitos no braço ou na perna para o estudo duas vezes durante 2003.

O coordenador dos cursos de Biossegurança da Fiocruz, Silvio Valle, disse que a instituição não descarta que tenha havido má-fé dos estrangeiros, mas quer a apuração do caso antes de tirar conclusões.