Título: Conversar com o Irã ficou mais difícil
Autor: Gilles Lapouge
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2005, Internacional, p. A12

A retomada, ontem, na Áustria, das conversações entre Irã e a trinca européia - França, Grã-Bretanha e Alemanha - sobre o desenvolvimento de poderio atômico iraniano tem como objetivo impedir que o Irã adote armamentos nucleares com a desculpa de uso civil. Essas conversações que duram já um ano sofreram um golpe no último mês de maio em função de exigências dos mulás iranianos. Ontem, foi uma retomada, mas uma retomada difícil, pois desde maio dois novos participantes entraram no círculo dessas negociações.

Esses dois novos participantes não são muito agradáveis: pelo lado iraniano, um novo presidente da República, Mahmud Ahmadinejad, um radical que se definiu ao dizer que Israel é um tumor e que os tumores devem ser tirados. E não perde uma ocasião de desafiar os Estados Unidos e o Ocidente em geral.

O segundo participante é a chancelaria da Alemanha, Angela Merkel, do partido de direita CDU. Desde seus primeiros passos na cena internacional, Merkel mostrou duas coisas: primeiro, que é uma diplomata habilidosa. Em seguida, que não gosta de hesitação, a lentidão que caracterizava o seu predecessor, o socialista Gehard Schroeder.

Na verdade, Merkel não escondeu que as observações frenéticas do presidente iraniano Ahmadinejad sobre Israel e sobre a suposta inexistência do Holocausto a indignaram. Em Berlim, falava-se esses dias mesmo que não se excluía a idéia de impor um embargo comercial ao Irã e de proibir a entrada do presidente iraniano em solo alemão se ele não se acalmasse.

Portanto, após a retomada das negociações, houve sinal de paciência e boa vontade. Mas o clima está obscuro há seis meses, principalmente porque os americanos não agüentam mais a insistência da trinca européia em falar com os mulás de Teerã.

Para piorar o panorama, os mujahedins do povo, que são opositores do regime de Teerã, fizeram revelações surpreendentes. Segundo eles, o Irã vai desenvolver instalações nucleares secretas nos subterrâneos e em túneis.

Claro, essas acusações são sem provas. Mas vale lembrar que esses mesmos mujahedins do povo foram os primeiros, em 2003, a revelar a existência de duas instalações nucleares clandestinas, relançando assim todas as interrogações sobre os projetos atômicos de Teerã.

Hoje, portanto, sabe-se que onze instalações subterrâneas fora descobertas no Irã nas quais foram escondidos partes do programa nuclear e balístico de Teerã. Essas construções clandestinas foram supervisionadas pelo presidente Ahmadinejad e ficarão sob o controle não do Exército, mas da guarda revolucionária - braço armado ideológico islâmico.

Esses subterrâneos foram escavados graças a aparelhos de perfuração fabricados na Alemanha e na Itália. Um dos responsáveis por essas escavações foi um engenheiro russo, especialista em instalações subterrâneas.

Último alarme: Israel teria localizado no Irã doze mísseis de cruzeiro de fabricação soviética e que poderiam estar carregados de ogivas nucleares.