Título: Laudo sobre morte de legista divide autoridades
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2005, Nacional, p. A10

Secreção asfixiou médico; mais exames podem ser feitos

Integrantes da Polícia Civil, do Instituto Médico Legal e do Ministério Público vão definir na próxima segunda-feira se solicitam exames complementares que possam detectar se o médico-legista Carlos Delmonte Printes utilizou uma substância com capacidade de impedir que ele reagisse à asfixia, apontada como a causa da morte do perito, em outubro passado. Delmonte foi o responsável pela necropsia do prefeito assassinado Celso Daniel (PT). Depois de mais de 70 dias da morte do perito, a polícia apresentou ontem o resultado do laudo elaborado pelo IML. Em 20 folhas, a equipe técnica aponta que Delmonte morreu por asfixia mecânica por excesso de mucosa. Não foi possível, porém, detectar qual substância teria impedido que ele não expelisse as placas de secreção, morrendo asfixiado. A hipótese de homicídio foi praticamente descartada, bem como a de morte natural - ao contrário do que noticiou o Estado ontem. A polícia também descartou ontem que a morte do médico-legista tenha ligação com o assassinato de Celso Daniel ou de outros seis réus-testemunhas envolvidos no caso e que morreram desde então.

Os peritos do IML encontraram no corpo do legista três substâncias - dormonid (utilizado para induzir ao sono), propanolol (indicado para reverter taquicardia) e lidocaína (anestésico local) - mas nenhuma delas seria suficiente para impedir que Delmonte expelisse a secreção. "Vamos formular um quesito complementar e trabalhar para saber se existe uma quarta substância determinante na inibição para expelir a secreção", afirmou o delegado José Antônio do Nascimento, que preside o inquérito sobre a morte do legista. Há suspeita de que, em função de seu conhecimento técnico, Delmonte tenha utilizado uma substância com propriedade de metabolizar no próprio organismo, ou seja, não ser possível ser detectada.

Com base na análise do laudo, e apesar das divergências entre os peritos que trabalharam na elaboração do estudo sobre a morte de Delmont - houve quem não concordasse com a conclusão dos trabalhos e dos 12 que integraram a junta apenas três assinaram o laudo final - a polícia descartou ontem enfaticamente a hipótese de a morte ter sido natural. Ganhou força, nas palavras do delegado que preside o inquérito, a versão de que Delmonte se suicidou. "A morte natural foi descartada em função da idade e da condição física do perito", comentou Nascimento. O delegado explicou que a tese de homicídio fica praticamente descartada porque não há sinais de ele tenha sido forçado a tomar algo.