Título: Recordes do agronegócio
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/01/2006, Notas e Informações, p. A3

Num ano em que uma rara combinação de fatores negativos transformou a atividade agrícola em pesadelo para muitos produtores rurais, as exportações do agronegócio brasileiro foram muito bem. Elas bateram novo recorde, alcançando US$ 43,6 bilhões em 2005. Como as importações ficaram em US$ 5,2 bilhões, o superávit do agronegócio foi de US$ 38,4 bilhões, ou 85,8% do saldo positivo de US$ 44,76 bilhões registrado pela balança comercial do País no ano passado.

Esse desempenho chega a surpreender, quando se levam em conta os problemas pelos quais passou a atividade agropecuária em 2005. O preço médio do principal item exportado pelo agronegócio brasileiro, o complexo soja, que responde por mais de 20% das vendas externas desse segmento da economia, registrou queda de 15% no mercado internacional no ano passado. No caso do segundo item mais importante da pauta de exportações, as carnes, a ocorrência de febre aftosa nos Estados de Mato Grosso do Sul e do Paraná levou alguns importantes compradores a embargar o produto brasileiro.

Para muitos produtores rurais e até mesmo para o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, o setor agrícola brasileiro enfrentou, em 2005, uma das piores crises dos últimos anos. Primeiro, a seca particularmente forte na Região Sul provocou a quebra da safra. Depois, os custos de produção subiram por causa do aumento da produção na safra anterior, mas a renda dos agricultores caiu, não apenas pela quebra da produção, mas também pela desvalorização do dólar em relação ao real. O resultado foi o aumento do endividamento dos agricultores.

Os dados do Ministério da Agricultura sobre o comércio exterior do agronegócio compõem um conjunto de notícias mais animadoras para o setor rural. O bom desempenho da economia mundial fez crescer a demanda por importantes produtos de exportação do Brasil, como açúcar, café e carnes, e impulsionou seus preços.

Em valor, as exportações de carnes em 2005 foram 31% maiores do que as de 2004 (US$ 8,07 bilhões contra US$ 6,15 bilhões). No caso da carne bovina, a queda do volume exportado foi compensada pelo aumento de cerca de 14% nos preços. As exportações de açúcar e álcool cresceram ainda mais do que as de carnes, 49% (US$ 4,68 bilhões em 2005 e US$ 3,14 bilhões no ano anterior).

O café teve um desempenho particularmente notável. Suas exportações, de acordo com números do Conselho dos Exportadores de Café Verde do Brasil (Cecafé), alcançaram US$ 2,91 bilhões no ano passado, o melhor resultado em oito anos e o segundo melhor no período de 25 anos, abaixo apenas do valor recorde de US$ 3,1 bilhões registrado em 1997. Em volume, os embarques no ano passado totalizaram o equivalente a 26,1 milhões de sacas. Os dados do Ministério da Agricultura são inferiores a esses, mas indicam, em 2005, aumento de mais de 40% nas exportações de café, na comparação com 2004.

Esses resultados foram mais do que suficientes para compensar a queda de cerca de 15% no preço da soja e seus derivados. Embora a quantidade exportada do complexo soja tenha aumentado 9,1%, alcançando 39,5 milhões de toneladas, a receita dessas exportações, de US$ 9,48 bilhões, foi 5,7% menor do que a de 2004.

O ânimo no campo parece ter mudado, para melhor. Números do IBGE apontam para a redução da área plantada na safra 2005-2006. A estimativa mais recente, divulgada há dias, é de uma queda de 4,68%, o que resultaria no cultivo de 46,9 milhões de hectares. Mas estimativas como essas vêm, agora, acompanhadas de projeções e dados menos pessimistas. O agricultor não deverá enfrentar, desta vez, alta de custos de produção. Também não há previsão de seca tão forte quanto a do ano passado. Em vez de caírem, como se temia, as vendas físicas de fertilizantes devem ter crescido em 2005.

Assim, parecem plausíveis as estimativas de safra que vão sendo feitas pela Companhia Nacional de Abastecimento e pelo IBGE. A mais recente estimativa do IBGE é a de que, em razão do aumento da produtividade no campo, a safra de grãos deve chegar a 127,6 milhões de toneladas, 13% mais do que a anterior. E, desta vez, o crescimento deverá ser puxado pela produção da Região Sul, a que mais sofreu com a seca em 2005.