Título: Câmara volta a discutir pedidos de cassação
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/01/2006, Nacional, p. A4

BRASÍLIA - Depois de 25 dias ignorando a convocação extraordinária do Congresso Nacional, o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados volta hoje ao trabalho e tenta acelerar a discussão dos pedidos de cassação de parlamentares acusados de receber mensalão. O presidente do conselho, deputado Ricardo Izar (PTB-SP), contesta as críticas de que a paralisação dos processos tem contribuído para o fracasso e o desgaste da convocação, que está custando quase R$ 100 milhões aos cofres públicos e beneficiou os parlamentares com mais dois salários extras. ¿Vamos surpreender e terminar a convocação com, pelo menos, seis processos votados pelo plenário da Câmara, podendo chegar a oito¿, garantiu o deputado. Até sexta-feira, o Conselho de Ética deve ouvir oito testemunhas.

Ao mesmo tempo, os relatores prometem concluir os votos dos processos envolvendo os deputados Pedro Corrêa (PP-PE), Roberto Brant (PFL-MG), Professor Luizinho (PT-SP) e Walderval Santos (PL-SP). Pela expectativa de Izar, a partir da semana que vem, será possível iniciar a votação em plenário dos processos de cassação, com o cumprimento dos prazos regimentais. O primeiro deverá ser o de Pedro Corrêa.

Ricardo Izar argumenta que suspendeu as reuniões do Conselho, apesar da convocação, pois o plenário só vai reabrir em 16 de janeiro. O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), por sua vez, estranhou essa posição do petebista, pois Izar reforçou as pressões, juntamente com deputados e senadores da oposição, para convocar extraordinariamente o Congresso no recesso parlamentar.

¿Fui pego de surpresa com isso¿, reclamou Aldo. ¿Nós pedimos uma convocação ampla e sem remuneração, mas com o plenário funcionando¿, retrucou Izar , tentando justificar a gazeta dos colegas.

A exemplo do Conselho de Ética, a Comissão Mista de Orçamento deve também retomar suas atividades esta semana. Até agora, apenas os integrantes da CPI dos Correios têm se deslocado de seus Estados para Brasília e está prevista uma série de depoimentos nas sub-relatorias até quinta-feira.

A cúpula do PFL, por sua vez, estará também na capital federal para avaliar a convocação e as ações do governo. Sobretudo, os pefelistas estão de olho na operação tapa-buraco, que começa hoje em 22 Estados e, sugerem, teria caráter eleitoreiro.

RECESSO CURTO

É confiando na agenda das comissões que Aldo Rebelo espera um movimento maior de políticos nos próximos dias. Ele quer aproveitar a presença dos deputados para consolidar o apoio à proposta que reduz o recesso parlamentar de três meses para 45 dias e ao projeto que acaba com o pagamento de subsídio extra em períodos de convocação, que pretende votar o mais rapidamente possível.

Aldo Rebelo já obteve o apoio do PFL e avalia que terá o respaldo de outros partidos. As duas propostas serão relatadas pelo deputado Inocêncio Oliveira (PL-PE). O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), disse que, em relação ao subsídio, a idéia que reúne maior apoio em seu partido é a de autorizar o pagamento de salário extra apenas quando a convocação for uma iniciativa do Executivo e não do próprio Legislativo.