Título: Chefe da Minustah nega discussão com Urano
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/01/2006, Internacional, p. A8

PORTO PRÍNCIPE - Hipóteses, especulações e boatos. Por mais que se fale em suicídio, e é nisso que mais se fala em Porto Príncipe, a morte do general brasileiro Urano Bacellar, comandante da Força Militar da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), continua sendo um mistério que só os peritos deverão decifrar. ¿Impossível adiantar qualquer coisa enquanto o laudo dos especialistas não revelar o que aconteceu¿, disse o embaixador chileno Juan Gabriel Valdés, chefe político da Minustah e representante pessoal do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, em entrevista à imprensa ontem à tarde. A perícia será feita por uma comissão internacional de investigação da ONU com a ajuda de um legista brasileiro.

Ainda na noite de sábado, o chanceler brasileiro, Celso Amorim, disse achar ¿pouco provável¿ a hipótese de o general brasileiro ter se suicidado.

Diplomata de carreira,Valdés ia revezando controladamente explicações em francês, espanhol e inglês, até que um repórter perguntou se era verdade que, como se ouvia em Porto Príncipe, o general Bacellar tivera uma discussão com ele na véspera de ter sido encontrado morto, sábado de manhã. Ele não deixou que o jornalista concluísse a pergunta. ¿Essa versão me choca, é uma campanha de ódio que não vou tolerar, conseqüência de uma indústria de rumores que conheço bem¿, reagiu o embaixador chileno.Valdés disse que era amigo do general, ¿um profissional generoso, de coragem e de valor¿ que deu provas dessas qualidades durante o período em que serviu no Haiti. O chefe da Minustah, que tem 7.265 capacetes azuis no país, prometeu levar adiante a incumbência que recebeu do Conselho de Segurança da ONU ¿ restabelecer o clima de segurança e organizar as eleições para escolha de um presidente e construção de uma verdadeira democracia.

¿Estamos intensificando as ações militares em toda a cidade para dar mais segurança à população e identificando os criminosos para combater os seqüestros¿, disse Valdés. Ele atribuiu a um candidato, cujo nome não revelou, o recurso a seqüestros por interesses eleitorais.

Valdés disse que, apesar da tragédia da morte do general Bacellar, o Brasil poderá continuar no comando da Força da Minustah. ¿Essa decisão depende do governo brasileiro e também da coordenação das Forças de Paz na ONU¿, disse.

Embora se bata mais na tecla do suicídio, oficiais da Minustah não acham impossível que o Bacellar tenha sido assassinado. ¿Apesar de o hotel ser seguro, já houve tiros por ali¿, disse um militar.