Título: Brasil vai lutar para manter o comando das forças de paz no Haiti
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/01/2006, Internacional, p. A8

BRASÍLIA - O Brasil vai lutar para manter o comando da força de paz da ONU no Haiti, apesar da morte, no sábado, do general Urano Teixeira da Matta Bacellar. Este interesse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em manter soldados brasileiros no Haiti foi manifestado pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, na reunião de emergência de sábado à noite, no Itamaraty, e traduzido na nota divulgada pelo governo brasileiro. O próprio Lula quis que fosse reiterada esta disposição em várias frentes, até mesmo na conversa de Amorim com o secretário-geral da ONU, Kofi Annan. Já há até nome escolhido para substituir o general Bacellar, mas o anúncio depende da decisão da ONU, que tem a palavra final sobre quem comandará a força. Apesar de ser unânime na cúpula do governo que o Brasil, neste momento, não pode sair do Haiti porque seria muito ruim para o País, começam a surgir divergências sobre a necessidade de permanência a longo prazo. ¿Seria uma desmoralização para nós¿, comentou uma autoridade do governo, para quem, no entanto, é bom que se pense se não está na hora de questionar as vantagens para o Brasil em manter um contingente tão grande de militares em Porto Príncipe.

Desde o início das discussões após a morte do general Bacellar, ficou patente a decisão do governo brasileiro de brigar pela manutenção do comando da força de paz. ¿Esta é a intenção do presidente Lula e do governo Lula como um todo¿, explicou uma fonte. Durante toda a reunião de emergência, mesmo o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, que se mostrou muito impressionado e preocupado com tudo que estava acontecendo no Haiti, embora concordando com a necessidade de que o novo comandante deve ser brasileiro, sinalizou a necessidade de se rediscutir esta questão.

A grande preocupação no momento é que a situação no Haiti é muito grave e só tende a piorar. Todos os relatórios que chegam às autoridades brasileiras dão conta de que a tão esperada ajuda financeira de US$ 1 bilhão para ser empregada na reconstrução do país não chegou, e não se sabe se vai chegar.

Os dados indicam ainda que a intranqüilidade é imensa, a insegurança é completa e o Brasil ainda não se conscientizou de que a missão, na verdade, não é de paz, mas de imposição de paz ¿ o que implica em riscos muito grandes, até mesmo de morte de militares brasileiros. Há quem lembre que só por milagre não houve uma baixa brasileira nos diários combates pelas ruas da capital haitiana e que, quando ocorrer uma morte de um soldado naquele país, a cobrança vai sae imensa, já que a família provavelmente vai cobrar do governo o que o Brasil está fazendo nas favelas haitianas, em vez de de proteger a população brasileira.

Bacellar foi encontrado morto sábado com um tiro na cabeça em seu apartamento em Porto Príncipe. A ONU investiga se foi suicídio.