Título: Sharon pode ser tirado hoje do coma
Autor: Lourival Sant'Anna
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/01/2006, Internacional, p. A10

JERUSALÉM - O primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, de 77 anos, poderá ser retirado hoje do coma profundo induzido pelos médicos do Hospital Hadassah Ein Kerem, em Jerusalém, onde está internado desde a noite de quarta-feira, quando sofreu um derrame cerebral. O anúncio foi feito ontem pelo diretor do hospital, Shlomo Mor-Yosef. ¿Uma equipe médica avaliou esta manhã os diferentes exames com escaneamento por tomografia computadorizada e observou uma ligeira melhora no tamanho do edema cerebral¿, disse Mor-Yosef aos jornalistas às 14 horas (10 horas em Brasília). Ele advertiu, no entanto, que o estado de Sharon ¿ainda é crítico, mas estável¿. Segundo o médico, o sangue, que se espalhou pelo lado direito do cérebro de Sharon, está bem drenado. Os sinais vitais estão normais e a febre, no ¿limite do normal¿.

Nova tomografia seria realizada esta manhã e, se essas condições se mantivessem, disse Mor-Yosef, os médicos reduziriam a profundidade da anestesia, podendo, a partir daí, constatar os danos causados pelo derrame no cérebro do primeiro-ministro. ¿Amanhã (hoje) a esta hora, estaremos em condições de informar melhor a situação do cérebro dele¿, antecipou o médico. Ao sair do coma profundo, Sharon será submetido a estímulos, cuja resposta indicará a extensão do dano e as seqüelas deixadas pelo derrame.

O fato de o derrame ter ocorrido do lado direito do cérebro é favorável porque Sharon é destro, o que significa que sua memória e fala estão situados no hemisfério esquerdo. Uma imagem de tomografia feita na sexta-feira mostrou que o tecido do lado esquerdo não foi afetado.

De acordo com o neurocirurgião argentino José Cohen, que comandou as três cirurgias (num total de cerca de 16 horas) a que Sharon foi submetido na quinta e sexta-feira, o primeiro-ministro ¿tem todas as chances de sobreviver¿, talvez possa entender e falar, mas não poderá voltar ao cargo.

Cohen, de 39 anos, foi trazido para Israel pelo chefe do Departamento de Neurocirurgia do hospital, Felix Umansky, também nascido na Argentina, que o conheceu numa conferência em seu país natal. Em 2002, Cohen montou a Unidade de Neurocirurgia Endovascular do hospital.

Foi a primeira vez que um médico diretamente envolvido no caso afastou a hipótese de Sharon reassumir a chefia de governo. Com isso, intensificam-se as especulações sobre quem deverá sucedê-lo na liderança do partido Kadima (Adiante), fundado por Sharon em novembro, para aglutinar dissidentes do Likud, de direita, liderados por ele, e do Partido Trabalhista, vinculados ao ex-primeiro-ministro Shimon Peres.

A posição do vice-primeiro-ministro Ehud Olmert, que chefia o governo interinamente, pareceu mais sólida ontem, depois que Peres, visto como um possível postulante, anunciou seu apoio a Olmert na liderança do Kadima (ler ao lado). O vice-primeiro-ministro, que ontem presidiu uma reunião do gabinete ao lado da cadeira vazia de Sharon, é tido como um hábil articulador de bastidores, embora não goze de muita popularidade.