Título: Valério movimentou R$ 2,6 bilhões de empresas
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2005, Nacional, p. A4

Relator diz que CPI começa a provar que parte desse dinheiro abasteceu valerioduto, para pagar políticos

O relatório parcial da CPI dos Correios afirma que chegou a R$ 2,6 bilhões o total de recursos movimentado, entre janeiro de 1997 e agosto de 2005, pelas empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza. Esses valores, que serviram para pagamentos a políticos e a partidos, foram mapeados depois da quebra de sigilo bancário das onze empresas de Valério. Embora ainda não saiba em que dimensão, o relator Osmar Serraglio (PMDB-PR) disse que a CPI começa a provar que parte desses recursos bilionários foi usada no valerioduto, permitindo pagamentos a campanhas políticas e a parlamentares que votaram assuntos de interesse do governo. Todo o dinheiro corria por meio de caixa 2, sem declaração à Receita Federal e à Justiça Eleitoral.

O relatório apontou os 14 maiores depositantes das contas das 11 empresas de Valério, que em sua maioria são agências de publicidade. O Banco do Brasil, o maior cliente, foi o maior provedor: abasteceu as empresas com R$ 388 milhões durante o período analisado. Do total, a CPI investiga o que veio de contratos regulares de publicidade e o que ajudou a irrigar o esquema ilegal de caixa 2.

Entre os 14 maiores abastecedores das empresas de Valério há três estatais, cinco empresas privadas, quatro órgãos estaduais e dois ministérios. Em cada caso, a CPI tenta separar pagamentos lícitos e ilícitos.

"Houve captação de recursos no setor público e privado. E houve bancos usados como instrumento para o pagamento aos destinatários. Ainda estamos investigando o que serviu ao valerioduto e o que eram contratos regulares", explicou Serraglio, em entrevista na qual apresentou, ontem à tarde, as conclusões da comissão. Ele citou a Eletronorte e os ministérios do Trabalho e dos Esportes como grandes depositantes nas contas de Marcos Valério. "Não temos nada que indique irregularidades até agora."

Já a Visanet, que, embora privada, tem 30% de participação do Banco do Brasil, é a primeira fonte comprovada de recursos que foram desviados para o valerioduto, segundo Serraglio.

No caso das agências de publicidade, a CPI provou um festival de fraudes contábeis e fiscais e mostrou cada passo de duas operações que, segundo Serraglio, desviaram quase R$ 20 milhões do BB para o PT, por meio da Visanet.

A migração dos recursos para o PT aconteceu graças a contratos de publicidade entre a Visanet e a DNA. A CPI já tinha mostrado o caminho de R$ 10 milhões, desviados em 2004, e ontem detalhou operação semelhante ocorrida no ano anterior, no valor de R$ 9,7 milhões.

Os desvios eram feitos com adiantamentos por serviços prestados que, em alguns casos, não foram comprovados. Auditoria interna do BB incluída no relatório revela que esses pagamentos somaram R$ 92,1 milhões de novembro de 2001 a julho de 2005. Do total, R$ 64,7 milhões foram justificados com notas fiscais emitidas ilegalmente pela DNA.

A auditoria do BB não encontrou documentação para explicar a antecipação de R$ 23,3 milhões. Deixa claro que não havia nenhum controle nos contratos da Visanet com a DNA, mas diz que essa medida caberia à Visanet.

Serraglio responsabilizou o ex-diretor de Marketing do BB Henrique Pizzolato pelos privilégios dados à DNA. Pizzolato negou ingerência nos contratos publicitários do BB, mas a auditoria interna afirma: "As decisões que aprovavam os dispêndios, consubstanciadas em notas técnicas internas, eram tomadas, na maioria das vezes, em conjunto pelas diretorias de Varejo e de Marketing e Comunicação."