Título: Relator aponta os 4 caminhos do mensalão e diz que ele está provado
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2005, Nacional, p. A4

Segundo Serraglio, um é o que liga repasses do valerioduto a trocas de partido; outro, a votações no Congresso

O mensalão, pagamento regular a deputados em troca de apoio favorável ao governo em votações importantes e de reforço às bancadas dos partidos governistas, está comprovado e foi concretizado por meio de quatro caminhos, afirmou ontem o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Ele apresentou o relatório parcial que cobriu seis meses e duas semanas de investigação. Para exemplificar o primeiro caso, o deputado detalhou repasses semanais de dinheiro feitos a partir das contas do empresário Marcos Valério para a corretora Guaranhuns, que por sua vez distribuía os recursos para o PL.

¿Estamos visivelmente constatando a existência de um semanadão¿, disse Serraglio. Ele detalhou repasses semanais que começaram a ser feitos em 11 de fevereiro de 2003 e se estenderam até 27 de agosto do mesmo ano. Ao todo, foram feitos 24 repasses que somaram o total de R$ 6 milhões.

PADRÃO DE CONDUTA

A segunda prática habitual, que o relator chamou de ¿padrão de conduta¿, associa repasses de recursos para financiar deputados que abandonavam os partidos pelos quais tinham sido eleitos para assinar ficha de filiação em partidos que compunham a base governista.

Em maio, houve uma concentração de pagamentos a personagens ligados ao PTB, ao mesmo tempo em que a bancada do partido crescia gradualmente. Entre 3 de abril de 2003 e 18 de junho do mesmo ano, foram pagos R$ 3,6 milhões.

Com a bancada do PTB recheada, no ano seguinte a concentração de repasses se fixou na tarefa de engordar a bancada do PP. O total de pagamentos realizados chegou a R$ 800 mil, entre 20 de janeiro e 18 de fevereiro de 2004.

O terceiro caminho mapeado pela CPI vinculou os repasses feitos por Marcos Valério a votações na Câmara que tinham alta importância política para o governo. ¿Até setembro, o padrão era de retirada de recursos na boca do caixa. A partir daí a sistemática mudou¿, explica o relatório.

O documento da CPI vincula os pagamentos feitos por Marcos Valério às votações da reforma da Previdência, da reforma tributária, da Lei de Falências e da Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico (Cide). Neste caso, mais de R$ 15 milhões foram repassados entre 27 de agosto de 2003 e 15 de janeiro de 2004.

O quarto caminho, segundo o relatório, detalha o pagamento de R$ 6,5 milhões ao PP, em dez repasses, feitos entre 26 de abril e 1.º de julho de 2004, por meio da corretora Bônus Banval, a intervalos curtos. ¿Está provado que o mensalão existiu. No caso das votações, não estamos afirmando que houve uma vinculação direta.

Estamos mostrando as datas. A inteligência de cada um é que vai dizer¿, afirmou Serraglio.