Título: Febre aftosa não afeta as exportações de carne
Autor: Eduardo Magossi, Ana Conceição
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/12/2005, Economia & Negócios, p. B16

Receita para este ano é recorde, com US$ 3,2 bilhões

As sanções comerciais impostas pelo mercado internacional às carnes brasileiras, depois do registro de focos de febre aftosa nos Estados de Mato Grosso do Sul e Paraná, não impediram que as exportações do setor atingissem recordes em 2005. No caso das carnes de frango e de suínos, a greve dos fiscais agropecuários trouxe mais prejuízos que a aftosa. Contrariando as primeiras análises catastróficas de que a receita com as exportações de carne bovina recuaria até 50%, o setor termina 2005 com receita estimada de US$ 3,2 bilhões (US$ 3 bilhões até dia 18 de dezembro), um resultado recorde e 30,6% superior a 2004.

"As perdas com a exportação de carne bovina ficaram em torno de US$ 250 milhões, menos de 10% da receita registrada em todo o ano", explica Marcus Vinicius Pratini de Moraes, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) e ex-ministro da Agricultura.

Pratini afirma que o mercado internacional precisa da carne brasileira em um cenário de escassez do produto em nível mundial. "Apesar dos mais de 50 países que proibiram a importação do produto brasileiro, menos de cinco o fizeram para todo o Brasil. O restante foi apenas para alguns Estados e os frigoríficos possuem hoje uma capilaridade grande, com presença em vários Estados, o suficiente para que uma reordenação nas entregas garantisse as vendas externas", explica. O presidente ressalta que, sem a carne brasileira, os preços do produto na Europa estão subindo e, no caso de alguns cortes, até dobrando de valor.

Mesmo a Rússia, que decretou em meados de dezembro uma ampliação do embargo para oito Estados exportadores de carne brasileira, ficou, entre 1 e 18 de dezembro, em primeiro lugar no ranking dos principais importadores de carne in natura do Brasil. "Atualmente não existem outros fornecedores de carne que podem suprir a ausência do Brasil. Por isso, a União Européia está apresentando uma boa vontade com as falhas do sistema sanitário brasileiro, que em outros momentos não seriam admitidas", explica a analista da Tendências, Amaryllis Romano.

A Austrália, terceiro maior exportador mundial de carne bovina, se reestrutura depois de um período de secas, e os exportadores do país preferem priorizar o abastecimento de clientes antigos do mercado asiático, como o Japão. Em relação aos Estados Unidos, segundo maior exportador do produto, os consumidores ainda estão reticentes na compra de sua carne depois dos casos de vaca louca registrados nos últimos anos. Na Argentina, o imposto de 15% incidente nas exportações do país tiram a competitividade do produto.

Já os dois principais exportadores de aves e suínos concentram suas atividades no Paraná. Na Perdigão, cerca de 11% da produção está no Estado. "A Rússia responde por 63% das exportações brasileiras de suínos e por 40% das exportações de suínos da Perdigão", diz Antonio de Toni, diretor de exportação da empresa.

Na Sadia, cerca de 30% da produção está no Paraná, mas a empresa realocou a produção destinada à exportação para outras unidades, segundo o presidente-executivo Gilberto Tomazoni. Assim como a Perdigão, a companhia traça seus objetivos para 2006 contando que o embargo às carnes vai se restringir ao Mato Grosso do Sul e ao Paraná. Os suínos respondem por 10% do volume das exportações da Sadia. "O problema será se o embargo durar além de janeiro", diz Tomazoni.

No caso do frango, a greve dos fiscais agropecuários, de 7 a 24 de novembro, prejudicou mais as exportações que o embargo russo. Com ela, as vendas em novembro caíram 20,4% em volume na comparação com outubro.Os embarques de carne suína também foram afetados, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Carne Suína (Abipecs). Em novembro, as exportações somaram 41.782 toneladas, 36,22% abaixo do mês anterior. A receita cambial caiu de US$ 121,8 milhões em outubro para US$ 77,6 milhões em novembro.