Título: 'Felizmente, o ano está acabando', desabafa Rodrigues
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/12/2005, Economia & Negócios, p. B16

Para o ministro da Agricultura, 2005 foi 'o pior dos mundos' para o produtor rural

BRASÍLIA - O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, afirmou ontem que o ano de 2005 foi muito duro para o agronegócio. "Felizmente, o ano está acabando", disse, ao fazer um balanço da agricultura em 2005 e traçar perspectivas para 2006. Ele lembrou que há 40 anos trabalha com agricultura e que são freqüentes as crises que atingem determinados setores, mas que, em 2005, a crise foi generalizada. Segundo ele, 2005 foi o "pior dos mundos" na agricultura e os focos de febre aftosa em Mato Grosso do Sul e Paraná complicaram ainda mais a situação. O primeiro foco foi diagnosticado em outubro.

Rodrigues calculou que a perda de renda na agricultura este ano chegará a R$ 21 bilhões. "Essa quebra de renda cria uma dificuldade brutal para o governo resolver. Não há políticas que permitam resolver um problema desse tamanho", afirmou. Ele lembrou que a crise deste ano é resultado de diversos fatores: custos de produção que subiram muito de 2004 para 2005; preços em queda, principalmente os do algodão, arroz e trigo; câmbio, que reduziu a competitividade da agricultura brasileira; e a seca, que descreveu como "sem precedentes" no Sul do País.

O governo fez o que pôde para ajudar os produtores, argumentou. Só em dívidas de custeio, que foram prorrogadas de 2005 para 2006, o montante chega a R$ 4 bilhões. Essa rolagem, no entanto, reduziu a oferta de recursos controlados e elevou a taxa de juro dos empréstimos aos agricultores. "Nós vivemos em 2005 o pior dos mundos na agricultura: queda de renda, menos oferta de dinheiro com taxa de juros mais alta", comentou o ministro.

Rodrigues calculou que os focos de febre aftosa reduzirão a receita cambial obtida com as exportações de carne em US$ 250 milhões. Para 2006, ele acredita num cenário mais favorável, resultado da queda dos custos de produção e redução da área plantada, que indicará menor produção de grãos, e a sinalização de uma política macroeconômica mais flexível.

"O importante é que o fundo do poço já passou", disse. O ministro cobrou a liberação de recursos no período correto: "A agricultura depende de São Pedro e o dinheiro precisa ser liberado no tempo certo. Se em março ou abril tivéssemos dinheiro para apoiar a comercialização, os preços não teriam despencado tanto".

Apesar das dificuldades, ele lembrou aspectos positivos. O primeiro foi o seguro rural, que tem orçamento de R$ 10 milhões para subvenção ao prêmio neste ano. O ministro também citou a aprovação e regulamentação da Lei de Biossegurança e contou que um novo modelo de rastreabilidade para o rebanho bovino deve ser concluído nas próximas semanas, mencionando ainda a criação de novos papéis financeiros para alavancar recursos para a agricultura.

Em relação à balança comercial, Rodrigues estimou saldo de US$ 35 bilhões com vendas de produtos de maior valor agregado, como café torrado e moído, solúvel, e leite condensado e queijos.