Título: Varig escapa das mãos de Tanure
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/12/2005, Economia & Negócios, p. B13

Colégio Deliberante, instância máxima da Fundação Ruben Berta, formalizou documento que impede venda

O Colégio Deliberante, instância máxima de poder na Fundação Ruben Berta (FRB), formado por cerca de 150 funcionários do Grupo Varig eleitos diretamente, formalizou um manifesto em que se declara contra a proposta de venda do controle para a Docas Investimentos, do empresário Nelson Tanure. O manifesto foi entregue na quarta-feira aos sete membros do Conselho de Curadores da fundação. E, praticamente, enterra as pretensões do empresário, que também é dono do Jornal do Brasil e da Gazeta Mercantil, de comprar a Varig. No manifesto, o colégio pede para que os curadores se comprometam a respeitar a decisão da assembléia de credores da Varig, que na última segunda-feira rejeitou a venda do controle para Tanure e aprovou o Plano de Recuperação Judicial apresentado pela administração da companhia aérea. O texto fala explicitamente para que os curadores não entrem com nenhuma medida judicial para tentar anular a assembléia. Diante desse posicionamento, a assembléia do colégio, convocada para esta semana para deliberar sobre a venda do controle para Tanure, foi cancelada.

"Na reunião, foi passada aos curadores a preocupação do colégio em relação às divergências com a executiva da Varig e solicitado que seja adotado um caminho único", afirmou o assessor de assuntos institucionais da Varig, Eduardo Pereira, que é membro do colégio e foi eleito, na reunião, para o Conselho de Curadores. Segundo ele, uma parte "significativa" do colégio rejeita a proposta de Docas para a Varig. Após o Natal, deverá haver um encontro entre a executiva da Varig e os curadores para selar um acordo de paz.

O Conselho de Curadores, formado pelos membros mais votados do colégio, havia assinado, no último dia 12, um acordo de venda do controle acionário da fundação para Tanure. A negociação foi suspensa dois dias depois pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que condicionou sua aprovação à vontade dos credores da Varig. A proposta de Tanure provocou um racha entre os curadores e a direção da Varig, que se traduziu em uma ferrenha batalha judicial. Em poucos dias, a FRB foi afastada e reconduzida ao controle da Varig por pelo menos duas vezes. Junto com Tanure, a FRB também tentou evitar a realização da assembléia de credores no dia 19 que, após uma guerra de liminares, acabou acontecendo. Desconfiado dos interesses por trás da disputa, o Ministério Público de Fundações gaúcho instaurou um inquérito para investigar a FRB.

Os curadores receberam o manifesto mas, segundo fontes na Varig, não houve um comprometimento formal de que eles não iriam tentar anular a assembléia. "Isso não significa que irão contestar, mas ninguém assinou nenhum documento", diz a fonte. Até o início da noite de ontem, nenhuma medida judicial pedindo a anulação da assembléia havia chegado ao Superior Tribunal de Justiça.

Além de Pereira, foi eleito ontem para o conselho da FRB o funcionário Jorge Neves. Eles substituem Élcio Rayol e Celso Costa, que renunciaram esta semana por motivos de saúde.