Título: Antonio Ermírio alerta para o risco de apagões
Autor: Milton F. da Rocha Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/12/2005, Economia & Negócios, p. B7

Empresário diz que poderá haver desabastecimento de energia a partir de 2008, caso o País cresça de 4% a 5% ao ano

O Brasil corre risco de novo desabastecimento de energia elétrica a partir de 2008, afirma o presidente do Conselho de Administração do Grupo Votorantim, Antonio Ermírio de Moraes, que fez alerta semelhante no governo Fernando Henrique Cardoso, no período de racionamento de energia, entre 2001 e 2002. "Espero que agora não sejamos ignorados. Muitas pessoas que entendem do setor de energia enxergam a perspectiva de novo apagão." Ermírio salientou que, se o Brasil crescer a taxas de 4% a 5% ao ano, ficará sem energia suficiente para sustentar o crescimento. "O que sentimos é que não há novos projetos de hidrelétricas em aprovação. Há muita dificuldade para se construir uma usina. Isso pode custar caro para o País, que precisa crescer e criar mais empregos. O crescimento pode ser de 4% a 5%, porque o mundo assim cresce. Não podemos crescer menos do que o mundo."

Entre as prioridades para o setor, Ermírio aponta novas linhas de transmissão e hidrelétricas no Norte do País. "Temos usinas projetadas há alguns anos e que estão em conclusão agora. São as últimas hidrelétricas. A sociedade parece ter receio em fazer novas hidrelétricas. O Brasil tem de usar a riqueza que tem, de gerar energia a partir da água. Uma energia limpa e renovável."

Ermírio também defendeu o uso do gás. "O gás da Bolívia é fundamental e o Brasil deve negociar para manter o acordo de fornecimento de gás natural. O País tem também gás natural e pode explorá-lo no futuro. É uma reserva importante e estratégica."

Para Ermírio, Brasil tem tudo para crescer ao redor dos 4% a 5% em 2006 e essa evolução está descolada do ano eleitoral. "Vai crescer porque tem condições econômicas para isso."

A inflação, afirma, deve se manter sob controle, mesmo com crescimento econômico e os juros em trajetória de queda. Quanto ao câmbio, acredita que o pior já passou. "O câmbio está se estabilizando e poderemos ver pela frente um real menos valorizado."

Em relação ás exportações, acha que o País deve exportar mais em valor e menos em volume. "É um caminho natural. As empresas devem ter exportar cerca de 30% da produção. Seria uma válvula de segurança para os seus negócios."

Ele recomendou ainda que "o Estado brasileiro deve diminuir de tamanho. Isto é aconselhável. Deve aplicar mais em investimentos em infra-estrutura do que em custeio."