Título: Emprego formal despenca 82%
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/12/2005, Economia & Negócios, p. B1

Número de vagas criadas em novembro caiu de 79.022 no ano passado para 13.831 este ano, aponta o Caged

BRASÍLIA - Caiu em 82% o número de empregos com carteira assinada no País em novembro, na comparação com igual mês de 2004. O número de novas vagas formais passou de 79.022 para apenas 13.831, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), anunciados ontem. Ante outubro passado, a queda foi de 88,3%. O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, admitiu que o "desaquecimento" na criação de empregos reflete a queda de 1,2% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro entre julho e setembro, em relação aos três meses anteriores. "Tivemos forte declínio do PIB no terceiro trimestre, que pode estar influenciando esse dado."

Para Marinho, os sinais de desaquecimento econômico naquele período criaram expectativa "não muito positiva" por parte de empresários e as famílias em geral quanto aos resultados da economia no final do ano. "Assim, houve retração de consumo e menos contratações", disse. Ele acredita que tenha ocorrido antecipação do fechamento de vagas que normalmente se registra no último mês do ano. "Por isso, é possível esperar redução menor de empregos formais em dezembro."

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), João Felício, não tem dúvidas: "A condução da política econômica está errada. Com juros altos, superávit elevado e câmbio exageradamente flutuante não se cria empregos." Para ele, a queda dos juros iniciada recentemente só terá reflexos no próximo ano.

A falta de investimentos e o processo de desindustrialização também são fatores que inibiram a criação de empregos, disse o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna.

SALDO

O Ministério do Trabalho, porém, relata que a queda no número de vagas abertas em novembro é tradicional. Embora novembro de 2004 tenha tido bom resultado, em outros anos houve até fechamento de vagas. Em 2002, por exemplo, foram 11.751 vagas a menos. Em 2001, foram 4.915. Em 2003 o dado foi positivo: 34.804 novas vagas.

Por causa desse esfriamento, Marinho projeta para 2005 a geração líquida de 1,2 milhão de novos empregos com carteira assinada. Mesmo sendo um número positivo, significará redução de 36% em relação a 2004 quando foram criadas 1,8 milhão de vagas. De janeiro a novembro deste ano, o saldo está acumulado em 1,5 milhão de novos postos.

Para o diretor do Departamento de Economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Francini, que também reclamou da demora do Banco Central (BC) em iniciar a queda da taxa de juros, a criação de menos empregos este ano era inevitável. "No ano passado o PIB cresceu 5% e este ano a economia está chocha. Nossa previsão é de crescimento de 2,3%, o que é vergonhoso." Segundo ele, quando se persegue um desempenho econômico menor, a criação de empregos certamente será menor também.

Marinho prevê que o governo Lula poderá fechar o mandato com o saldo de 4 milhões de novos empregos formais. "Se somarmos uma estimativa de colocações informais, especialmente na agricultura, isso pode chegar a 8 milhões", afirmou.

O Caged, cadastro montado com informações sobre admissões e contratações mensais de todas as empresas do País, revelou que a indústria, a agropecuária e a construção civil foram os setores que mais eliminaram empregos em novembro.

A agropecuária reduziu 57 mil postos e a indústria, 44.815 vagas, a maioria no setor alimentício. Os destaques positivos foram o comércio, com 74.505 novas contratações, e serviços, com 42.360.