Título: PT pressiona relator da CPI dos Correios a incluir PSDB no parecer
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/12/2005, Nacional, p. A8

Petistas querem que Serraglio cite repasses à campanha de Azeredo e pagamentos suspeitos feitos a agências

BRASÍLIA - O relatório final da CPI dos Correios será fruto de uma cuidadosa negociação entre governistas e oposicionistas, intermediada pelo presidente da comissão, senador Delcídio Amaral (PT-MS). Na quinta-feira, os petistas cobraram a inclusão do PSDB no relatório parcial do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), que sustentou a tese da existência do mensalão e mostrou as conexões do esquema de distribuição de dinheiro de caixa 2 montado pelo empresário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza. O empresário confessou ter distribuído R$ 55,8 milhões para o PT e partidos da base aliada, durante o governo Lula, e repassado R$ 11,5 milhões para o PSDB de Minas, em 1998, na campanha pela reeleição do então governador mineiro e hoje senador Eduardo Azeredo.

Serraglio, no entanto, não citou o PSDB. Depois de falar dos repasses ao PT, incluiu apenas uma observação de que "precedente assemelhado ocorreu em Minas Gerais, em 1998".

PAGAMENTOS

Os petistas querem que, além dos repasses à campanha de Azeredo, sejam incluídos pagamentos suspeitos feitos a agências de publicidade por estatais durante o governo Fernando Henrique Cardoso.

"Não queremos jogar nada para baixo do tapete, mas não aceitamos que se acuse só o PT, como se outros partidos não tivessem praticado atos irregulares", protestou o deputado petista Jorge Bittar (RJ).

Um parlamentar governista ouvido pelo Estado pondera que a não inclusão do PSDB no relatório parcial poderá ser a moeda de troca na negociação futura. Os aliados do governo na CPI dirão que o balanço parcial das investigações já protegeu o PSDB e a conclusão não poderá repetir a omissão.

Os governistas apostam na estratégia de ampliar ao máximo as citações ao esquema de caixa 2 e a fraudes em concorrências públicas que ocorreram antes de 2003.

Delcídio quer uma negociação prévia, para evitar que o documento gere revolta nos governistas, colocando em risco a aprovação do relatório final.

DEPOIMENTOS

Ontem, a CPI divulgou a lista de 31 depoimentos que serão prestados até o dia 26 de janeiro.

Além de diretores e ex-diretores de fundos de pensão, donos de corretoras e pessoas suspeitas de envolvimento no esquema de Marcos Valério, os parlamentares vão ouvir autoridades do governo que ajudarão na elaboração de uma série de propostas de mudanças na lei para tornar mais ágeis os mecanismos de combate à corrupção e à lavagem de dinheiro.

Estão marcadas visitas à CPI do ministro-chefe da Controladoria-Geral da União (CGU), Waldir Pires, do secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, do superintendente da Polícia Federal, Paulo Lacerda, do procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, e do Tribunal de Contas da União (TCU), Adilson Mota.

Ontem, o sub-relator dos fundos de pensão da CPI, Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), adiantou que ouvirá primeiro pessoas ligadas à Prece, fundo de pensão da Companhia Estadual de Águas e Esgoto (Cedae), e à Nucleos, da Eletronuclear, os que tiveram as maiores perdas em aplicações no mercado financeiro, entre 2000 e 2005.

ACM Neto está investigando se os prejuízos foram resultado de operações deliberadas para gerar lucros para investidores ligados a Valério.