Título: Para Aldo, nenhum deputado vendeu voto
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/12/2005, Nacional, p. A7

Presidente da Câmara diz que partidos receberam para quitar dívida

BRASÍLIA - Um dia depois de a CPI dos Correios confirmar que houve o esquema de mensalão, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), disse não acreditar que houve pagamento a deputados em troca do apoio a projetos de interesse do governo. "Não houve pagamento para votações. Esta convicção tenho até hoje", afirmou. "Acredito que houve transferência de recursos para partidos a fim de saldar compromissos de campanha", completou, assumindo a mesma posição dos partidários do PT que integram a CPI dos Correios. Na avaliação de Aldo, a tese do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de que houve pagamento durante a votação dos projetos não se sustenta.

"Fui líder do governo durante um ano. O Congresso aprovou matérias polêmicas e difíceis, como as reformas da Previdência e tributária. E todo mundo sabe que essas matérias só foram aprovadas com o apoio da oposição, não foi pela base do governo", enfatizou. "A não ser que tenham pago para a votação de matérias fáceis", acrescentou, praticamente afastando essa hipótese.

Aldo Rebelo prefere, portanto, acreditar na tese dos dirigentes dos partidos envolvidos no escândalo do mensalão: o dinheiro serviu para saldar dívidas eleitorais e saldos das campanhas. "Acredito nessa versão", concluiu.

O presidente da Câmara não escondeu sua contrariedade com a decisão do Conselho de Ética que, apesar de convocado para trabalhar agora, só vai se reunir a partir de 9 de janeiro. "Discordo da suspensão dos trabalhos, mas o Conselho de Ética é um órgão autônomo. Nunca interferi no conselho, procurei pautar minha relação respeitando essa autonomia e não seria agora que eu faria uma intervenção", disse. O deputado afirmou ser necessário aguardar o final da convocação para ver os resultados e deu um voto de confiança aos integrantes do conselho. "Acredito que os integrantes do Conselho de Ética, quando retornarem, terão todas as condições de promover audiências e o julgamento de alguns processos durante esse período. Eles fizeram grande esforço em 2005. Os processos estão adiantados e os relatórios, na fase final de acabamento. É necessário, por um ato de justiça, fazer essas considerações."

Mesmo que quisesse interferir no conselho, como cobrou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Aldo não poderia. Ele explicou que o regimento impede eventuais punições e corte de salários agora. Como os integrantes têm mandato e autonomia podem fazer seu próprio calendário.

Aldo está determinado a aprovar a emenda constitucional, durante a convocação, para reduzir o recesso parlamentar que hoje dura três meses, e o pagamento de salário extra aos parlamentares nesse período. E garantiu que votará também a lei do Fundeb, que amplia oferta de matrículas nas escolas públicas, e a legislação geral das micro e pequenas empresas.