Título: Foi uma jogada acertadíssima
Autor: Ricardo Brandt e Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2006, Nacional, p. A6

O governador paulista Geraldo Alckmin está se sentindo cada dia mais confortável no uniforme de candidato à Presidência da República. Primeiro, foi ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em que assumiu sua candidatura. Agora, afirma com todas as letras que deixará o governo de São Paulo antes mesmo do prazo fatal para poder se dedicar à campanha. Estrategicamente, foi uma jogada acertadíssima. Alckmin toma a iniciativa, lança-se como candidato, ocupa os espaços na mídia e obriga o prefeito José Serra a se definir. Tudo o que Serra não queria. Enquanto Alckmin pode dispor do tempo que lhe resta como governador de São Paulo, pois está impedido de se candidatar mais uma vez ao governo, Serra está enredado nas atividades da Prefeitura, ocupa o cargo há apenas um ano e, ainda por cima, assinou um malfadado documento comprometendo-se a cumprir os quatro anos à frente da Prefeitura de São Paulo.

Por isso, apoiado nas pesquisas que o colocam à frente do próprio Lula já no primeiro turno, Serra tenta construir um consenso em torno de seu nome dentro do PSDB, apoio que lhe faltou em 2002, quando o PSDB o acompanhou com certa relutância. Lutando contra a fama de desagregador, o prefeito costura apoios entre os tucanos, para que a candidatura lhe caia no colo por gravidade.

Enquanto isso, vai tentando sondar os humores dos paulistanos a respeito de sua eventual saída da Prefeitura. Serra não tem pressa. Pelo visto, o governador Alckmin decidiu não ficar refém dos prazos de Serra. Bem colocado nas pesquisas, sem arestas aparentes dentro do PSDB, ele lança seu nome diretamente na sociedade, num gesto de audácia que contradiz o próprio apelido de "picolé de chuchu", que lhe foi maldosamente atribuído na campanha de 2002. E a sorte costuma premiar os audazes. Alckmin fez sua jogada. Agora, a bola está no pé do PSDB.