Título: Alckmin tenta apagar incêndio e alega que não quis rachar PSDB
Autor: Ricardo Brandt e Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2006, Nacional, p. A6

Um dia após afirmar que deixará o cargo de governador de São Paulo até o fim de março por causa da sua pré-candidatura à Presidência, o governador Geraldo Alckmin negou ontem que tivesse avançado o sinal a ponto de provocar um racha no PSDB. "Nós não estamos causando nenhuma divisão", assegurou. "O PSDB tem uma tradição de busca da unidade partidária", acrescentou. Surpreso com a repercussão de seu anúncio, Alckmin passou parte do dia apagando o incêndio provocado dentro do partido. Disparou diversos telefonemas para importantes líderes tucanos pelo País e para aliados, ressaltando que suas declarações não foram além de reiterar a disposição de representar o PSDB na corrida pela sucessão presidencial.

Em evento pela manhã no Palácio dos Bandeirantes, onde sancionou lei que cria a defensoria pública no Estado de São Paulo, o governador ressaltou à imprensa que o anúncio reflete nada mais do que a transparência com que tem tratado a eleição. Ou seja, que ele tem deixado claros os seus verdadeiros objetivos políticos. "Acho que isso é bom para o partido."

O governador ressaltou, ainda, que o seu posicionamento não significa pressão para que o PSDB antecipe a escolha do candidato. A legenda deve definir quem será o nome com chances de reconduzir o partido ao Palácio do Planalto até março.

Apesar da negativa de Alckmin, seus aliados entendem que a decisão de se desincompatibilizar do cargo pode colocar o prefeito de São Paulo, José Serra, contra a parede. Favorito à disputa nas pesquisas, mas sem declarar sua pré-candidatura, Serra ficaria constrangido em atrapalhar os planos do governador, tido como candidato natural da legenda, por estar em final de mandato. Serra, em contrapartida, está apenas no segundo ano de governo e assinou na campanha eleitoral o compromisso de que não abandonaria o cargo antes do fim do mandato.

UNIDADE

O governador de Minas, Aécio Neves, não estranhou a decisão de Alckmin. "É uma demonstração da disposição pessoal dele em se colocar como candidato. Não me parece nada além disso e é óbvia", afirmou o tucano - também tido como potencial candidato.

Aécio acredita que, qualquer que seja a decisão do PSDB, haverá unidade. "O PSDB pode ter defeitos, é natural que os tenha, mas é partido maduro. A unidade é a precondição fundamental para disputar com chances as eleições", observou. "Todo nome deve estar preparado para ser, mas também para não ser, o escolhido. Quem não for terá de trabalhar para construir a vitória do candidato de maior viabilidade", destacou o governador mineiro.

Para o secretário-geral do PSDB, deputado Eduardo Paes (RJ), é natural que ocorra um tensionamento entre Alckmin e Serra até a definição do candidato à Presidência. "Mas o tensionamento não pode passar do limite", ressaltou.

"Os dois podem fazer seus esforços até o limite. Mas, no limite, a decisão é do partido", emendou o líder tucano no Senado, Arthur Virgílio (AM).

PESQUISAS

Nos bastidores, conforme o Estado apurou, ao anunciar que de fato deixará o governo, Alckmin se firma como o nome do partido e espera, dessa maneira, conseguir até março reduzir sua desvantagem - nas pesquisas de intenção de voto - em relação a Serra.

"O Alckmin sabe que precisa se aproximar de Serra. Ele não precisa nem passar à frente do prefeito nas pesquisas. Mas um crescimento é fundamental para que ele se consolide como candidato natural. Dentro do limite, está fazendo a sua parte", disse um tucano com trânsito na cúpula do partido. "Se chegar em março e o Alckmin não crescer, sabe que estará fora."