Título: PL apoiará Lula de novo, com ou sem a vaga de vice
Autor: Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2006, Nacional, p. A6

O comando do PL decidiu manter o apoio ao PT na próxima eleição presidencial, caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decida disputar a reeleição. Para isso, o PL aceita, inclusive, abrir mão da posição de indicar o candidato a vice-presidente com Lula, como ocorreu na eleição de 2002, quando o partido lançou José Alencar para compor a chapa presidencial. Apesar de Alencar ter deixado o partido no ano passado, filiando-se ao PMR, o PL não vê impecilhos para se manter na aliança com o PT, mesmo que Lula decida preservar seu atual vice ou abrir a a posição para um nome indicado pelo PMDB, por exemplo. Para aliados, o presidente do PL, Valdemar Costa Netto, tem repetido que "não se aliará com partidos de oposição só porque o governo Lula está mal politicamente". Valdemar renunciou ano passado ao mandato de deputado federal para escapar do processo de cassação por envolvimento com o chamado esquema do mensalão. Com o partido desgastado politicamente pelo envolvimento nas denúncias de irregularidades, Valdemar sabe que o posto mais confortável policamente ainda é do lado do PT, no palanque de Lula. Com três minutos de horário eleitoral na televisão para oferecer a Lula na campanha presidencial, os dirigentes do PL sabem que o partido continuará tendo influência num eventual segundo mandato de Lula, ocupando ministérios e outros cargos importantes, mesmo fora da vice-presidência.

A assessoria de imprenda do PL confirmou ontem que o partido "vai apoiar a candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no caso de ele se lançar à reeleição". No PL, não há dúvidas de que Lula tentará um novo mandato, ainda que o presidente prefira adiar o anúncio de sua candidatura oficial. Se Lula desistir e houver outro candidato governista, o PL tende a manter seu apoio, mas prefere analisar o nome que for lançado antes de sacramentar a aliança.

A aliança política entre PT e PL foi um dos principais movimentos estratégicos feitos por Lula para quebrar a resistência do eleitorado mais conservador a sua candidatura. Ao lançar o nome de José Alencar, um dos principais empresários do País e, na época, filiado ao PL, como candidato a vice, Lula e o PT conseguiram trazer para o lado do partido em 2002 apoios importantes do setor produtivo.

Depois da bem-sucedida campanha eleitoral, a aliança com o PT acabou sendo contaminada pela descoberta que o PL também tinha recebido repasses de recursos das empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza, no esquema de caixa dois. Sem a mesma força que tinha em 2002, o PL, no entanto, ainda possui uma bancada de 39 deputados federais e dois senadores, que costuma votar praticamente fechada a favor de propostas de interesse do governo federal. Com o tempo de televisão disponível e esses votos potenciais no Congresso, o PL ainda se mantém um aliado interessante para o PT.

O próprio Valdemar deverá disputar um novo mandato de deputado federal nas próximas eleições. Ao renunciar, no ano passado, ele conseguiu preservar seus direitos políticos e deverá testar a receptividade do eleitorado, apesar do seu envolvimento no esquema do valerioduto.