Título: 'País terá de reduzir mais a dívida'
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2006, Economia & Negócios, p. B1

O Brasil precisa continuar a reduzir a sua dívida e alongar os prazos de vencimento, derrubando ainda mais o risco país, se quiser alcançar o grau de investimento, o que ampliará as oportunidades do País no cenário internacional. A afirmação é do diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo de Rato, em entrevista exclusiva ao Estado. A seguir, os principais trechos: O que falta para o Brasil alcançar o grau de investimento?

O caminho percorrido foi importante. O que falta é continuar trabalhando para uma redução da dívida, a redução da taxa de risco da dívida com os países industrializados, uma reestruturação da dívida no caminho em que já se está fazendo, ou seja, uma dívida com prazos mais longos, menos indexada ao dólar e uma relação declinante entre o tamanho da dívida e o tamanho do Produto Interno Bruto. Tudo isso permitirá ao Brasil, em prazo relativamente curto, entrar no clube dos países que têm grau de investimento, que abre oportunidades muito importantes e que, mantidas ao longo do tempo, permitem uma evolução econômica muito mais sólida.

Mais abertura comercial no contexto da Rodada de Doha faz parte dessa trajetória?

Para um país do porte do Brasil, abrir mais suas fronteiras supõe aumentar as oportunidades de beneficiar-se da globalização. Os últimos 30 anos da história econômica do mundo nos ensinam que os países que apostaram num crescimento baseado na abertura comercial expandiram suas economia mais e durante mais tempo do que aqueles que basearam seu crescimento exclusivamente em suas demandas domésticas. Nesse sentido, os resultados das exportações do Brasil são muito positivos, inclusive porque foram alcançados num ambiente de valorização da moeda nos últimos dois anos. As exportações continuaram a avançar, impusionadas por fato muito importante para o Brasil que é a redução da inflação.

A decisão da Argentina de também saldar seus débitos com o FMI é vista por críticos da atual política econômica como prova de que o país vizinho chegou junto com o Brasil ao final do ciclo em que precisou do socorro do FMI, embora tenha escolhido um rumo diferente no tratamento da dívida a credores privados e optado pelo calote.

A Argentina viveu uma crise econômica muito grave que teve, entre suas conseqüências, um default da dívida. Vocês no Brasil não tiveram o custo que a economia e a sociedade argentinas tiveram em 2002, com quedas do nível do PIB que só se recuperaram no ano passado. Essas comparações não são realistas.

A Argentina passou por um período muito difícil, muito duro, com seqüeles sociais muito graves. O país ainda está no processo de normalização de sua integração nos mercados internacionais. O Brasil não está nessa situação. É verdade que a Argentina deu uma volta muito importante, manteve uma política de saldo primário muito importante. Mas enfrenta problemas que o Brasil já não enfrenta, como da integração aos mercados internacionais. Essas comparações são injustas, pois ignoram a tremenda crise que a sociedade argentina viveu.