Título: No palanque, Lula põe má situação de estradas na conta dos governadores
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/12/2005, Nacional, p. A4

Em Minas, o presidente repele com veemência "os buracos que estão recaindo nas costas do governo federal"

MONTES CLAROS - Do alto do palanque em Montes Claros, ao norte de Minas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem pesadas críticas a governadores que não empregaram verbas federais na recuperação de estradas abandonadas e contemplou cerca de 2 mil pessoas que desafiaram o sol escaldante para entoar um cântico que o fez sorrir: "2006, 2006, Lula outra vez". Ele não disse nem sim nem não, mas deixou uma pista - foram tantos os projetos anunciados, muitos de execução a longo prazo, tantas as promessas que reiterou ao lado de cinco ministros, que todos ficaram com a impressão de que Lula almeja mais 4 anos no Planalto.

Em seu discurso, o presidente alimentou antiga queda-de-braço que travam o governo federal e os governos estaduais acerca das rodovias malconservadas. Lula empregou um tom severo quando atribuiu aos governadores a responsabilidade por uma malha viária em frangalhos. E repeliu com veemência "os buracos que estão recaindo nas costas do governo federal". Há muito tempo, os mineiros pedem solução para a BR-135, quase 300 quilômetros de asfalto praticamente perdido na região central do Estado.

Nessa parte de seu pronunciamento, o presidente citou uma vez o nome do antecessor, que foi vaiado. "Eu preciso que vocês compreendam o seguinte. Em 2002, eu não era presidente da República ainda. O presidente era o Fernando Henrique Cardoso. O governador de Minas não era o Aécio (Neves). Era o Itamar (Franco). Depois de eleito presidente, em novembro (2002), eu fui a Brasília pedir ao presidente (FHC) que liberasse dinheiro para que o governador de Minas e outros governadores assumissem a responsabilidade por 14 mil quilômetros de estradas federais em 10 Estados brasileiros."

Segundo Lula, foi então editada a Medida Provisória 82, que estadualizava as rodovias federais e transferia verbas para sua conservação. O presidente invocou o testemunho de Clésio Andrade, vice-governador de Minas. "O Clésio sabe (da MP 82), ele é da Confederação Nacional dos Transportes."

Por força da MP, disse Lula, Minas ficou com R$ 780 milhões para que assumisse a responsabilidade por algumas estradas federais, entre as quais a BR-135. "Acontece que o dinheiro foi utilizado para uma outra coisa, foi utilizado para pagar 13º e salário atrasado, isso ainda na época do Itamar."

O presidente declarou que daquele dinheiro sobrou pouco. "Quando o Aécio Neves começou, ele tinha R$ 280 milhões para obras. Talvez tenha sido utilizado em outras obras. Também não estou dizendo que era menos importante. Mas o que está acontecendo no Brasil de hoje é isso. Ora, os governadores pegaram dinheiro para fazer estrada, foi feita a MP dando aos governos estaduais a responsabilidade de cuidar das estradas. Quase nenhum governador do Brasil fez nem um quilômetro de estrada e agora o que é que está acontecendo: os buracos dessas estradas estão recaindo nas costas do governo federal, que passou dinheiro para os governos estaduais que não fizeram as estradas."

PLANOS

Lula garantiu que não está fugindo à sua responsabilidade e divulgou planos para 2006, seu último ano na Presidência. "Nós não vamos permitir que a estrada se acabe por conta dessa briga entre governo estadual e governo federal. O povo não pode ser o prejudicado nessa coisa que aconteceu no Brasil."

O presidente disse que "possivelmente" no começo de janeiro vai fazer uma reunião com todos os governadores para que eles paguem uma parte das obras.