Título: Setor privado investe na construção
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/12/2005, Economia & Negócios, p. B2

Com baixos investimentos em obras públicas, o setor da construção civil deverá crescer, segundo estimativas recentes, apenas 1% em 2005. Esse porcentual seria ainda menor não fosse o bom desempenho do segmento privado, constatado pelo aumento do volume do crédito habitacional. Os investimentos públicos em construção foram avaliados em apenas 0,5% do produto interno bruto (PIB), em 2005, menos da metade do que foi investido em 2004. Um fator a mais contribuiu para o ritmo lento da construção em 2005: não foram aplicados em saneamento básico os R$ 2,7 bilhões previstos no orçamento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), calcula o presidente do Sinduscon-SP, João Cláudio Robusti. A construção tem crescido pouco nos últimos anos. Sem incluir 2005, o setor só cresceu em 2000 (2,6%) e 2004 (5,7%), caindo 9,42% entre 2001 e 2003. A intensidade da queda na década já é tratada como um "problema estrutural" pelo economista Carlos Eduardo Gonçalves, da FEA-USP, citado pelo jornal Valor. O declínio ajudou a derrubar a taxa de crescimento do PIB, pois a construção civil contribui com cerca de 60% da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) na economia. Uma desaceleração generalizada dos investimentos na construção foi evitada pelos empréstimos no âmbito do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). Entre os 12 meses terminados em novembro de 2004 e os últimos 12 meses, até novembro, os financiamentos evoluíram de R$ 2,867 bilhões para R$ 4,599 bilhões. Só no mês passado as operações de crédito imobiliário atingiram R$ 618,4 milhões, aumentando 70,7% em relação a outubro e 79,5% em relação a novembro de 2004. A expansão dos empréstimos do SBPE foi de 160% nos últimos três anos, de R$ 1,7 bilhão, em 2002, para quase R$ 4,6 bilhões. E o número de unidades financiadas nos últimos 12 meses atingiu 55.217, ante 52.122 nos 12 meses anteriores e apenas 28.902, em 2002. O bom desempenho de 2005 já está levando economistas como Amaryllis Romano, da consultoria Tendências, a prever que em 2006 o crescimento do setor deverá atingir 3%. Os números atuais do SBPE são pequenos quando comparados aos das épocas áureas do sistema, que chegou a financiar 266 mil unidades num ano (1981). Mas dois fatores estimularão as operações em 2006: a continuidade da redução dos juros e, portanto, do valor das prestações, aumentando o número de mutuários potenciais e a queda da inflação, que permitirá elevar os recursos das famílias disponíveis tanto para o consumo como para a compra da casa própria .