Título: G-20 destaca-se em três anos de poucos avanços efetivos
Autor: Sonia Racy
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/12/2005, Economia & Negócios, p. B2

Após três anos no poder, qual o saldo obtido pelo governo Lula no âmbito das relações comerciais internacionais? "A principal e inegável vitória foi a formação do G-20, na reunião da OMC, em Seattle, mesmo sabendo que os resultados práticos de acesso a mercados, principalmente na agricultura, são mínimos, por conta dos interesses contraditórios e defensivos entre os próprios países membros", avalia o consultor Michel Alaby. No mais, porém, o resultado da conta não é nada positivo. Senão vejamos. A estratégia estabelecida logo no início do governo, de uma agenda internacional com ênfase no multilateralismo, esbarrou no fato de alguns países - como os EUA, a China e a Índia - terem insistido em caminhar na mão contrária: desviaram-se para o bilateralismo.

Também não deslanchou a idéia de formação de um bloco sul-americano que, unido em torno de objetivos comuns, tivesse mais força nas negociações com os EUA para formatação da Alca. Mesmo quando se chegou mais próximo disso: a assinatura do acordo comercial com a Comunidade Andina das Nações (Equador, Peru, Colômbia e Venezuela). "Em lugar de se dar um bom passo à frente rumo a um acordo efetivo para a formatação da sonhada Comunidade Sul-Americana de Nações, deixou-se que cada país fizesse valer seus interesses nacionais, com a abertura de mercados progressiva para ocorrer entre 10 a 15 anos." Um erro básico, segundo Alaby. Tanto que os EUA se aproveitaram das divergências evidenciadas ali para negociar acordos bilaterais de comércio com Colômbia, Peru e Equador, fragmentando ainda mais os possíveis objetivos comuns dos sul-americanos para atingir o mercado americano. "Ficou claro aí que a integração sul-americana não pode ser construída unicamente com base em objetivos políticos, mas sim com interesses em integração física e nas necessidades concretas de crescimento econômico dos países membros", diz Alaby.

Mas o grande erro do governo Lula, segundo o consultor, foi firmar uma grande aliança estratégica com os principais mercados emergentes - China, Índia e Rússia -, sem condicioná-la a uma maior presença do comércio exterior brasileiro nesses mercados. "Não esqueçamos que esses países adotam uma postura bastante pragmática na definição de suas propostas e ações de cooperação política e comercial, ao contrário do Brasil, que persegue muito mais aspirações políticas de liderança dos países em desenvolvimento."

soracy@estado.com.br

Já está no gelo o champanhe reservado pelo ministro Luiz Furlan para comemorar o risco país em 300 pontos-base. Terá de ficar lá mais um pouco. Mas segunda-feira, na entrevista que dará para anunciar resultados de 2005 e metas para 2006, o ministro poderá abrir a garrafa reservada para o cumprimento da meta revista de US$ 117 bilhões em exportações. Os US$ 120 bilhões esperados no início de 2005 foram transferidos para 2006.

Maior comemoração merecerá o saldo da balança comercial: com dólar em queda, no início do ano ninguém se atreveu sequer a sonhar com o que hoje é uma realidade. Um superávit próximo dos US$ 45 bilhões.

Têxteis

No início do ano, animados com um crescimento de 27% em 2004 sobre 2003, os empresários têxteis esnobaram o fim das cotas mundiais à importação de têxteis. E previram crescimento de 25%.

Não terão muito o que comemorar esta noite: o crescimento ficou em 5%.

Montadoras

Melhor destino mereceu o setor automotivo. Num cálculo considerado otimista, a Anfavea apostou que o setor produziria 2,3 milhões de veículos em 2005.

Fechou com 2,44 milhões de unidades produzidas e 1,7 milhão vendidas.

Indústria

A CNI previu que a produção da indústria de transformação daria um salto de 5,5%. A Fiesp, de 4%.

Cálculos concluídos, deve ficar próximo de 2%.

Construção civil

O Sinduscon começou o ano sonhando alto. Previa um crescimento de 4,6%. Motivo: o governo prometeu irrigar o setor com investimentos de R$ 19 bilhões.

Só vieram R$ 9,6 bilhões e o crescimento ficou em 1%.

Delfim

O ex-ministro Delfim Netto pôs fé em que a economia continuaria crescendo um pouco acima dos 5%. Bastava o governo não fazer besteiras...

Juros

Mesmo conhecedores do conservadorismo do BC, nenhum economista acreditava no início de 2005 que este chegaria tão longe. Paulo Leme, do Goldman Sachs, apostou em juros de 16,5% em dezembro de 2005. Sergio Werlang, do Itaú, registrou 15,5%.

A Taxa Selic fecha em 18%.

Petróleo

O Departamento de Energia dos EUA comemorou a chegada de 2005 contando com o preço do petróleo em torno de US$ 40 o barril. A Opep amenizou: US$ 35. Contavam com demanda menor pela desaceleração da economia mundial e pouso forçado da economia chinesa.

A demanda não caiu, a China insistiu em crescer e o petróleo engatou marcha forte, batendo nos US$ 61 o barril.

Dólar

O Ipea, do alto de sua competência técnica, e a Febraban apostaram no dólar a R$ 3,00. Sergio Werlang ficou com R$ 2,85. Com muito

NA FRENTE

CURTAS Há um ano, a grande incógnita em termos de economia mundial era saber até que ponto o mundo continuaria a financiar os estratosféricos déficits gêmeos dos EUA. Um ano depois, a dúvida continua a mesma.

Descrentes, os economistas do mercado financeiro apostaram em um risco país de 380 pontos-base em dezembro de 2005. Fechou em 308 pontos-base.

A aposta máxima no fim de 2004 era de que a Bovespa chegaria aos 31.600 pontos. Quinta-feira, último pregão do ano, a Bolsa fechou em 33.455. E com apetite para mais.