Título: BC elimina limite para banco comprar dólar
Autor: Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/12/2005, Economia & Negócios, p. B1

O Banco Central (BC) adotou ontem uma nova medida para conter o processo de valorização do real em relação ao dólar, ao acabar com o limite de US$ 6 milhões para operações de compra de moeda estrangeira feitas individualmente pelos bancos - a chamada posição comprada em câmbio. A medida entra em vigor segunda-feira. Para o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e professor do Ibmec do Rio de Janeiro, Carlos Thadeu de Freitas, o objetivo da decisão é criar demanda adicional pela moeda americana no mercado doméstico, dando condição para que a cotação se sustente. "Vamos ter novos agentes interessados em comprar dólares a partir de segunda-feira."

O BC, por sua vez, informou que a decisão dará mais eficiência ao processo de formação de preços nos mercado de câmbio. A valorização do real vem provocando queixas cada vez maiores de exportadores, já que o dólar mais barato reduz o ganho das vendas no exterior. Integrantes do governo também vêm mostrando desconforto com a queda do dólar.

Neste ano, a moeda americana caiu 12,4% em relação ao real. A variação só não foi maior porque nas últimas semanas o BC tem agido mais intensamente para conter a queda, seja comprando dólares no mercado, seja fazendo operações no mercado futuro, chamadas de "swap reverso", em que oferece contratos que pagam taxas de juros em troca de operações feitas em dólar. As compras diretas de dólares do BC somam mais de US$ 21 bilhões.

Criado em 2002, o limite tinha como objetivo conter a alta do dólar provoca pelas incertezas do cenário eleitoral. "O BC está se ajustando ao momento atual", disse o economista da CNC. A valorização do real tem sido provocada pelas volumosas entradas de divisas na economia, trazidas pelas exportações e por aplicações de estrangeiros interessados em lucrar com juros altos.

Segundo o BC, a medida vai retirar das normas do banco um viés contra a posição comprada. O próximo passo, diz Freitas, é estabelecer alguma penalidade para a posição vendida em câmbio dos bancos - quando eles assumem compromissos de fornecer divisas a clientes e se desfazem de estoques de moeda estrangeira. No último dado divulgado pelo BC, os bancos estavam vendidos em US$ 3,511 bilhões.

Thadeu de Freitas duvida, porém, da eficácia de medidas como essa no médio e longo prazos. Ele lembrou que as taxas dos títulos de dez anos do Tesouro dos EUA estão hoje próximas das dos papéis de dois anos. "Isso indica que os juros continuarão a subir lá, mas numa intensidade pequena." Com isso, os investidores vão continuar em busca de diferencial.

A decisão de ontem, segundo o economista, não deverá levar o BC a suspender as compras de dólares no mercado interno e mesmo parar de fazer intervenções no mercado futuro de câmbio. "As duas coisas continuarão acontecendo."