Título: Governador não quer ser candidato `por WO¿
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/01/2006, Nacional, p. A4

Dizendo-se surpreso com a reação provocada no PSDB por suas declarações de que deixará o cargo até março para concorrer à Presidência, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, saiu da retaguarda e mandou ontem um recado para os descontentes. ¿Não quero ser candidato, como se diz no esporte, por WO: ninguém quer, então vai você¿, advertiu. O termo WO (iniciais da expressão inglesa walk over) é usado para definir uma vitória conseguida porque o adversário não se apresentou. Mas assessores diretos do governador disseram que o recado foi claro. ¿Ele não quer ficar como uma segunda via, caso o José Serra não queira ser candidato¿, disse um tucano ligado ao governo estadual.

Apesar de não ter dito ainda se quer ser candidato ou não, Serra lidera as pesquisas de intenção de voto feitas divulgadas até agora. Enquanto isso, Alckmin prossegue com seus passos para mostrar que sua candidatura tem viabilidade. Para o governador, a desincompatibilização do cargo é algo natural, já que ele pretende disputar a Presidência pelo PSDB. ¿É óbvio (anunciar a desincompatibilização), porque se você quer ser candidato tem que deixar o cargo. Senão, fica inelegível no dia 2 de abril¿, disse o governador, após participar da entrega de 100 carros para a Polícia Civil, no Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Ele tentou minimizar a divisão no PSDB provocado pela disputa para a candidatura à Presidência. ¿Acho bom que o partido tenha várias opções (de candidatos) para poder refletir bastante e escolher bem.¿

Interpretada pela maioria dos tucanos como uma cartada para pressionar o partido a antecipar a definição entre ele e o prefeito, Alckmin disse ter recebido com estranheza a repercussão gerada pela notícia. ¿Não é jogada, é sinceridade. Impressionante como na política as coisas que são a verdade pura causam um certo impacto¿, comentou. O governador defendeu que as cartas sejam colocadas na mesa na disputa. ¿Política não pode ser um clube de má fama. A pior política é a omissão¿, alfinetou.

Questionado se ele iria percorrer o País para se tornar conhecido em áreas como o Norte e o Nordeste, o governador comparou-se ao presidente argentino Néstor Kirchner. ¿Eu não tenho preocupação com essa questão de ser conhecido. Alguém na Argentina sabia do nome do Néstor Kirchner? Ele era um governador de um Estado lá... Ninguém sabia¿, disse Alckmin. ¿Isso é sempre assim. Para isso tem campanha eleitoral, tem rádio e televisão¿, completou.

Para Alckmin, seu desempenho nas últimas pesquisas, que o colocam com 20% das intenções de voto no primeiro turno, é surpreendente. ¿Eu sempre imaginei começar o horário de rádio e televisão com 8%, não mais que um dígito. Ter mais de 20% é extraordinário.¿

A falta de conhecimento de seu nome em muitas áreas mais pobres do País é o principal ponto atacado pelos tucanos partidários da candidatura de Serra, que o governador prefere relativizar. Questionado sobre a desvantagem que enfrenta nas pesquisas eleitorais, o governador repetiu ontem um discurso que já vem sendo difundido por seus aliados: ¿Pesquisa é um referencial, mas não é o único¿.