Título: Mercado projeta alta para a Bolsa
Autor: Tom Morooka
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/01/2006, Economia & Negócios, p. B4

Especialistas estão otimistas com as ações, mas apontam também o elevado juro real na renda fixa

O novo ano, que começa hoje, chega carregado de projeções positivas em relação à tendência do mercado de ações. Alimentam o otimismo de especialistas, principalmente, a perspectiva de redução dos juros básicos e a continuidade de ingresso de capital estrangeiro para a compra de ações brasileiras, consideradas ainda baratas. "A Bolsa poderá fechar o ano com valorização em torno de 30%, aproximadamente o dobro do juro do CDI", comenta o analista de investimentos Eduardo Santalúcia. As premissas básicas que dariam respaldo a esse desempenho, aponta, seriam a manutenção da atual política econômica, a perspectiva de corte dos juros, crescimento da economia acima de 4% e continuidade de liquidez externa. "Nesse cenário, o investidor não pode deixar de ter uma parcela de recursos aplicada em renda variável para obter uma rentabilidade maior." Essa fatia seria de 15% do capital para uma carteira moderada e de até 35% para investidores de perfil mais agressivo.

O vice-presidente sênior de Fundos de Investimento do banco WestLB do Brasil, Mário Carvalho, também acredita que a alta da Bolsa seja pelo menos o dobro da variação do juro médio do CDI, estimado por ele em 16,50%. "O cenário é bastante favorável para as ações." Ele diz que o País vem colhendo os frutos de uma política conservadora que vem dando resultados, como o controle da inflação, a virtual eliminação da dívida cambial, quitação de dívida com o FMI. "Além disso, o preço das ações brasileiras está defasado em relação ao de outros mercados emergentes, o que abre também uma perspectiva de valorização maior."

"O mercado tem potencial de alta, mas que diminui à medida que as ações vão subindo", pondera o consultor de investimentos Fabio Colombo. Ele lembra que este é um ano de eleição, evento que pode afetar o desempenho da Bolsa. O prognóstico de Colombo é que, em um otimismo moderado, a Bolsa poderia chegar aos 39 mil pontos ao fim de 2006, emparelhada com a variação do juro do CDI. O Índice Bovespa (Ibovespa), que mede a variação de 57 principais papéis do mercado, fechou 2005 em 33.456 pontos.

Santalúcia comenta que a eleição vai criar nervosismo, com oscilações mais acentuadas da Bolsa. "O mercado deve ser positivo nos dois primeiros meses do ano, quando o Ibovespa deverá buscar os 38 mil pontos", prevê. "Vai haver muita volatilidade nos mercados por causa das eleições, a Bolsa vai passar por estresses, mas o cenário macroeconômico positivo deverá prevalecer sobre as incertezas políticas", avalia Carvalho, do WestLB Brasil.

RENDA FIXA

Embora nominalmente em queda, os juros reais, acima da inflação, vão continuar bastante elevados, concordam os especialistas. "O juro real vai permanecer ainda acima de 10%", prevê Santalúcia. A estimativa de Colombo é que fique numa faixa que vai de 9% a 11%. A melhor opção para o investidor conservador, apontam, são os fundos DI, porque o cenário é de juros em queda e também por causa das eleições. Os títulos prefixados, ademais, já estão com taxas ajustadas a juros baixos no futuro.