Título: Caça-talentos se animam: empresas estão contratando
Autor: Terciane Alves
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/01/2006, Economia & Negócios, p. B1

Comércio, tecnologia da informação e energia vão abrir vagas em 2006

Ano de eleições e vibração pela Copa do Mundo, 2006 começa com boas perspectivas para o mercado de trabalho, excepcionalmente no primeiro semestre. Consultores e especialistas em recursos humanos são unânimes: não há tendência de declínio ou cortes drásticos. Depois dos escândalos no governo em 2005, as empresas perderam o medo de que fatores políticos tirem a economia do prumo e afetem os seus investimentos. Metas de liberação de verbas mais polpudas do governo federal para obras de grande porte de siderurgia, infra-estrutura e energia, implementação de projetos por meio das Parcerias Público Privadas (PPPs) e expansão de grandes empresas, como a CSN e Perdigão, reforçam o otimismo quanto ao emprego. Consultores que prestam serviços de orientação e planejamento para as organizações no País citam consumo, varejo, tecnologia da informação, energia e até indústria de base como potenciais bons contratadores.

Para alguns deles, o fator político pesa, mas não como na última eleição presidencial, quando o mercado ficou em compasso de espera. "2006 será um ano ímpar, ainda mais com o apetite que o governo tem de investir em infra-estrutura", aposta Marcelo Braga, vice-presidente da Fesa Global Recruiters, que atua com profissionais do alto escalão. "A última cartada que o governo tem na manga é investir no emprego."

O faro do pesquisador de talentos tem respaldo na fala do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, que, em entrevista ao Estado, fez prospecções otimistas a partir da análise de projetos e obras na carteira de recursos do banco de fomento liberados em 2005 e programados para este ano. Em 2005, o setor industrial foi o que mais recebeu recursos do total de R$ 47 bilhões, montante que deve aumentar R$ 10 bilhões em 2006.

Neste ano, os grandes projetos que contarão com verbas do BNDES são de siderurgia, papel e celulose e petroquímica, indícios, segundo ele, de que o ramo de insumos básicos vai bem. Há também projetos de infra-estrutura e hidrelétrica, que não criam postos em grande quantidade, ao contrário do setor agrícola e da indústria da construção civil, que devem se recuperar. Para ele, irá bem a cadeia têxtil e os bens de consumo duráveis e semiduráveis, criando um efeito multiplicador. "Teremos a criação de 100 mil novos postos de trabalho por mês, acredito, mas esse assunto é com o ministro do Trabalho", afirmou, tentando não invadir a área do colega.

AQUECIMENTO

Empresas especializadas em recrutamento passaram dezembro trabalhando extra, por isso crêem que o ano começa aquecido. "Muitas companhias ingressam em janeiro com posições em aberto", conta Neli Barbosa, gerente-geral de Recrutamento e Seleção da Manager, que atua com cargos de média gerência para cima. O otimismo é maior para contratações especializadas e de níveis de gerência e alta direção, processo intenso em 2005, mas Neli aposta que possa chegar a cargos técnicos e de chão de fábrica.

"O País está blindado", observa Sergio Averbach, diretor-geral da Korn Ferry. A multinacional especializada na busca para alta direção obteve um volume recorde de contratações em algumas áreas, como a de recursos humanos, que teve aumento de 62% em relação a 2004. Para Averbach, consumo e indústria são potenciais bons recrutadores, além de projetos alocados em tecnologia.

Entusiasta, Braga, vice-presidente da Fesa, virou o ano comemorando um crescimento de 70% na demanda por altos executivos em relação a 2004 e lembra que foi um ano em que várias empresas promoveram substituição na alta cúpula e ampliaram quadros em função do aprimoramento de seu time.

Multinacionais mandaram e devem ainda enviar executivos do Brasil para a matriz para aprendizado. Para ele, tendem a estar aquecidas as áreas de finanças, marketing e vendas, mas também a indústria, setores de energia e cabeamento.

Fortes contratações nas áreas de consumo, tecnologia da informação, telecomunicações e infra-estrutura é a aposta de Irene Azevedo, sócia diretora da Mariaca & Associates. "Pessoas de marketing e vendas serão muito procuradas."

EXPERIÊNCIA

Irene e outros recrutadores chamam atenção para o amadurecimento das organizações e afirmam que as empresas estão mais atentas aos profissionais experientes. "Mesmo o desempregado terá chances de se recolocar, desde que não tenha ficado parado, sem investir no aprendizado", aposta Braga.

Aos 50 anos, 27 de carreira, o tecnólogo Alfredo Belmont Pessoa Jr. não se queixa. Em novembro, perdeu o emprego, pois a financeira em que trabalhava foi incorporada por um banco e extinguiu a área em que atuava. Achou que poderia tirar umas férias. "Pisquei e estava contratado em três semanas." Hoje completa um mês na nova empresa, a Matera Systems, como gerente de Projetos. Além de faturar um salário melhor, tem a "agradável tarefa de recrutar pessoas" para um projeto novo da empresa. Para ele, o mercado permaneceu aquecido mesmo no fim do ano. "Isso é muito bom. Acredito que 2006 continuará assim."