Título: Mudança à vista na sucessão
Autor: Ricardo Noblat
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/01/2006, Nacional, p. A7

Uma notícia para agradar Lula, PMDB, PFL e partidos menores: a verticalização tem tudo para ser derrubada em fevereiro próximo. Ela é a regra que proíbe os partidos de se aliarem nos Estados com partidos dos quais são adversários na eleição presidencial. E passou a valer em 2002 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Pois, bem: daqui a um mês e pouco, o TSE responderá a uma consulta sobre o assunto do pequeno PSL. E o que dirá? Com a palavra, o relator da consulta, ministro Marco Aurélio Mello: "Estou com o voto pronto. Na eleição presidencial poderemos ter certas coligações e no âmbito estadual, outras. A realidade política de Estado para Estado não é a mesma".

Marco Aurélio está otimista com a aprovação de seu voto pela maioria dos ministros do Tribunal. O fim da verticalização esbarrava no presidente do TSE, Carlos Velloso, que é favorável à regra. Mas Velloso se aposenta ainda este mês. E quem assumirá o lugar dele? Ao que tudo indica, o próprio Marco Aurélio.

O fim da verticalização é tudo o que Lula quer. Assim, espera atrair uma fatia do PMDB para sua candidatura à reeleição e partidos menores como PSB e PC do B. Esses dois, aliados históricos do PT, só crescerão se deixarem o PT de lado em vários Estados e se unirem com adversários dele.

E o PMDB, como ficaria? Sem a obrigação de repetir nos Estados a mesma aliança para a eleição presidencial, o partido lançará um nome próprio para a vaga de Lula. O PFL ganharia mais condições de barganha com o PSDB. Em troca do apoio à candidatura de Alckmin ou de Serra, exigiria o apoio do PSDB a alguns dos seus candidatos aos governos.

O deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), presidente da Câmara, quer votar ali nos próximos dias o fim da verticalização. Mas não haverá votos suficientes para acabar com ela - como não houve em dezembro último. Então espera que o TSE faça o serviço.

Se o TSE fizer, o PSDB lamentará muito. Alckmin e Serra acham, por exemplo, que a verticalização polariza a disputa com Lula e pode resolver a eleição ainda no primeiro turno. Quanto ao PT... Bem, o PT é a favor da verticalização. Sabe que sem ela será forçado a fazer mais concessões a aliados nas eleições estaduais.

O que é bom para Lula nem sempre é bom para o PT. E quando é ruim para os dois, Lula dá um jeito de jogar a culpa somente no PT.

(Acesse www.blogdonoblat.com.br para ler a íntegra da entrevista do ministro Marco Aurélio Mello concedida a Leandro Colon, repórter do blog.)