Título: Verticalização e crise dificultam alianças
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/01/2006, Nacional, p. A6

PT pós-mensalão deixou de ser aliado atraente e pré-candidatos aguardam definição de regras para coligações

BRASÍLIA - A crise que atingiu o governo e o PT por causa do mensalão e do caixa 2 e a incerteza sobre a liberação das coligações terão reflexos nas eleições nos Estados. No Rio Grande do Sul, o PDT desistiu da histórica parceria com o PT. E, pela primeira vez em sua história, o PT gaúcho não fará prévias para escolher o candidato, que será o ex-governador e ex-ministro das Cidades Olívio Dutra. O Estado do Rio tem várias pré-candidaturas definidas, à espera da decisão sobre a verticalização, que será tomada pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Congresso até março. Mantida a verticalização, as chapas estaduais têm de repetir as federais. São pré-candidatos os senadores Sérgio Cabral (PMDB) e Marcelo Crivella (PR), o ex-deputado Vladimir Palmeira (PT), a deputada Denise Frossard (PPS) e o deputado estadual Heider Dantas (PFL).

Com a verticalização, as coligações no Rio já têm problemas. Caso o PMDB lance candidato a presidente - há, entre outros, os pretendentes Anthony Garotinho, Germano Rigotto e Nelson Jobim - e não se coligue com o PSDB, ficaria impedido de fazer aliança formal com os tucanos, com os quais conta hoje. Outro problema: Cabral tem apoio de Garotinho, mas essa vinculação lhe tira votos na cidade do Rio, de acordo com pesquisas feitas no Estado e não registradas na Justiça Eleitoral.

Em Minas, a situação é mais tranqüila para o governador Aécio Neves (PSDB), caso tente a reeleição. Como o PSDB deve fechar chapa com o PFL, Aécio não teria problemas, porque em Minas já há essa aliança. Mas o PT terá dificuldades, já que o candidato petista tem o apoio do ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB). Se a verticalização não cair e o PMDB lançar candidatura própria ou não se vincular ao PT, Costa terá de apoiar outro candidato.

A situação se repete no Paraná, onde o governador Roberto Requião (PMDB) tem hoje o apoio informal do PT. Poderá perdê-lo com a verticalização. O PDT do senador Osmar Dias - irmão do senador Álvaro Dias (PSDB) - ficará sozinho. Em Brasília, o governador Joaquim Roriz (PMDB) joga com vários candidatos até a definição das regras: o senador Paulo Octávio e o deputado José Roberto Arruda, do PFL, o deputado Tadeu Filipelli, do PMDB, e o ex-senador e ex-presidente do Supremo Maurício Corrêa, que deixou o PDT e agora é peemedebista.

Em Pernambuco, o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) deve apoiar a candidatura de Mendonça Filho (PFL), hoje seu vice. Mas poderá enfrentar o problema da verticalização, caso PFL se coligue com o PSDB e o PMDB lance candidato próprio. O PT deve concorrer com o ex-ministro Humberto Costa, e os tucanos com o senador Sérgio Guerra.

A situação mais curiosa é a da Bahia. Lá, PSDB e PT querem se coligar para enfrentar o candidato do PFL do senador Antonio Carlos Magalhães. Se for mantida a verticalização, ACM poderá ter o gostinho de ver seus inimigos tucanos sendo obrigados a apoiar seu candidato.