Título: Vaivém diplomático
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/01/2006, Nacional, p. B4

POBREZA: Alavanca da imagem de Lula no plano internacional, o combate à pobreza foi um bordão retomado pelo presidente às margens da abertura da Assembléia-Geral da ONU, em setembro. Propôs a tributação de passagens aéreas para manter um fundo de combate à pobreza. O Chile já cobrava esse imposto, a França o adotou em seguida e, até agora, o Brasil não deu seu exemplo. PARCEIROS: Fiel à sua prioridade para a cooperação Sul-Sul, Lula consumou a aliança estratégica Brasil-Venezuela-Argentina para a área energética em Montevidéu, em fevereiro, mas não convidou para esse clube o recém-empossado presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez.

CÚPULA ÁRABE: A reunião de Cúpula América do Sul e dos Países Árabes ocorreu em maio. E acabou marcada pelo rebuliço gerado pelas definições tortuosas de "terrorismo" e de "democracia". Mais feliz na área dos negócios, o encontro abriu o caminho para acordo entre o Mercosul e os seis países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG).

AMÉRICA DO SUL: Lula conseguiu pôr em marcha a Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa), na reunião de cúpula de setembro, em Brasília. Mas a idéia não é dele. Nasceu na Presidência de Itamar Franco.

DEMOCRACIA: Desde o início do governo, Lula vem estreitando sua aliança com o presidente venezuelano, Hugo Chávez. Em setembro, chegou a declarar que a Venezuela tem "excesso de democracia", apesar de assessores próximos ponderarem que processos eleitorais não garantem a integridade das instituições de qualquer país.

DERROTAS: Fracassam as campanhas brasileiras por três postos de relevância no cenário internacional - a cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, a direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) e a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

BILATERAIS: O presidente decidiu em 2005 visitar países relevantes para o Brasil, do ponto de vista de comércio e de investimentos, como o Japão, a Coréia e a Itália. Também esteve em um parceiro "promissor", a Rússia, que em seguida vetou o ingresso da carne brasileira sob suspeita de aftosa. Seu terceiro périplo pela África foi mantido, apesar dos resultados efetivos improváveis.

MERCOSUL: A Argentina pediu, e o Brasil aceitou adiar a conclusão da união aduaneira do Mercosul. O governo Lula consentiu com a postergação do livre comércio para o setor automotivo, que começaria em 2006.

ALCA: Mercosul e Venezuela proclamaram a morte da Alca, ao fim da Cúpula das Américas, no início de novembro. Lula preferiu posição discreta, que lhe permitiu receber em seguida a visita oficial George W. Bush, em Brasília.

RODADA DOHA: Brasil conseguiu expandir alianças em prol da negociação do fim dos subsídios e da abertura de mercados agrícolas no mundo em desenvolvimento e com os EUA.