Título: Uruguai quer sair do Mercosul e fazer acordo com os EUA
Autor: Marina Guimarães, Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/01/2006, Economia & Negócios, p. B7

Atitudes do Brasil e Argentina prejudicam os pequenos', acusa ministro

O Uruguai voltou à carga com sua intenção de associar-se aos Estados Unidos e abandonar o Mercosul. O ministro de Economia e Finanças, Danilo Astori, deu uma entrevista ao semanário uruguaio Búsqueda, dizendo que seu país se distanciou do modelo econômico da Argentina e que se sente mais próximo do Chile. Astori acusou o Brasil e a Argentina "de tomar atitudes bilaterais que prejudicam as possibilidades dos países pequenos" e adiantou que já está em "conversações informais" com os EUA para assinar um acordo. Ele disse que espera "começar a negociar o quanto antes possível" porque seu país "só pode obter resultados favoráveis". "Um tratado de livre comércio com EUA não só potencializa possibilidades de investimento mas também pode gerar incrementos notáveis no nível de atividade. Também gostaria que o Uruguai assinasse um tratado de livre comércio com a China e estabelecer uma relação comercial mais fluida com esse país."

O ministro argumentou que os dois projetos são necessários para o Uruguai porque seu país precisa abrir-se mais ao mundo. "Tudo isso virá muito bem para o Uruguai, no sentido de desenhar uma estratégia equilibrada, que o mantenha vinculado com a região mas que lhe abra possibilidades fora dela."

A idéia de um acordo com os EUA surgiu durante o governo do conservador Jorge Batlle (2000-2005) e não perdeu força com a eleição do socialista Tabaré Vázquez, em novembro de 2004. Segundo Astori, considerado um economista progressista moderado, o assunto "voltou à agenda". Até agora, o Chile era o único país sul-americano que havia assinado um acordo de livre comércio com os EUA.

Há poucas semanas, o Parlamento uruguaio aprovou o Tratado de Investimentos com os EUA, que proporciona garantias bilaterais de investimentos. O acordo despertou suspeitas nos outros sócios do Mercosul, que desconfiaram que esse poderia ser um passo rumo a um acordo com os EUA.

O Uruguai exportou para os EUA US$ 628,4 milhões entre janeiro e outubro de 2005. No mesmo período, as importações uruguaias de produtos americanos alcançaram US$ 215,3 milhões.

Analistas consideram que a proposta de um acordo de de livre comércio com os EUA aumentará as tensões dentro da Frente Ampla, a coalizão de governo, formada por democratas-cristãos, socialistas, comunistas e ex-guerrilheiros tupamaros. Setores mais à esquerda da coalizão consideram que o governo está se desviando das propostas da campanha eleitoral.