Título: Tarifas pesam mais na inflação do idoso
Autor: Alessandra Saraiva
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/01/2006, Economia & Negócios, p. B5

Índice foi de 5,05% em 2005, e de 4,93%, para o consumidor médio

Os preços para o consumidor idoso subiram 5,05% em 2005, abaixo da inflação registrada pela terceira idade em 2004, de 6,58%. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), foi o menor patamar de preços desde 1998, influenciado principalmente pela queda no preço dos alimentos. O cenário da inflação para brasileiros de mais idade não mostrou apenas sinais positivos. Estudo da FGV mostra que, desde o Plano Real, os idosos sofrem mais com a inflação do que o consumidor médio devido ao grande impacto dos reajustes dos preços administrados no orçamento dos consumidores acima de 60 anos. O Índice de Preços ao Consumidor médio, o IPC-Brasil, foi de 4,93% no ano passado. Ontem, a FGV anunciou o IPC da Terceira Idade (IPC-3i) do quarto trimestre de 2005 e a taxa acumulada do ano. No último trimestre, o indicador subiu 1,54%, ante deflação de 0,19% no trimestre anterior. Segundo André Braz, economista da FGV, a aceleração na taxa do indicador foi causada por fator sazonal: a disparada nos preços de hortaliças e legumes (18,4%), segmento conhecido por altas fortes, mas passageiras.

Embora os alimentos tenham sido o motivo da inflação mais alta no último trimestre, a queda de preços desses produtos, ao longo do ano, impediu impacto maior dos aumentos das tarifas e preços administrados na inflação da terceira idade. Segundo Braz, enquanto as cinco principais altas de preços para os consumidores acima de 60 anos foram originadas de tarifas em 2005, as cinco mais expressivas quedas partiram do setor de alimentação. "O preço dos alimentos foi um dos motivos para que a taxa do IPC-3i não acelerasse tanto."

Para a dona de casa Leonor Oliveira Faustino, 78 anos, a inflação do idoso pode ter sido mais baixa que em anos anteriores, mas isso não foi percebido. Ela conta que alguns gastos estão subindo muito e cita o exemplo da conta de luz. "Você nem faz idéia da batalha", diz ela, que mora com o marido doente, ao explicar o esforço para fazer compras. O casal vive com renda de aluguel e tenta economizar ao máximo para fazer frente aos gastos com saúde, alimentação e tarifas administradas.

A força do impacto dos reajustes em tarifas nas despesas dos idosos é visível quando um período mais longo é analisado. Segundo o economista, de 1994 até 2005 os preços medidos pelo IPC-3i foram, em média, 2% mais altos do que os registrados pelo consumidor médio, medidos pelo IPC-Brasil.

"A inflação foi mais rigorosa para os idosos. Os reajustes em preços administrados ficaram mais concentrados (de 1994 até 2005) e isso restringiu o orçamento da terceira idade", diz Braz. Ele lembra que as despesas do idoso estão mais relacionadas a preços controlados, principalmente os ligados ao setor de saúde, como planos de saúde.

Não por acaso, a mais importante alta de preço em 2005, entre os idosos, partiu de plano e seguro saúde, que teve aumento de 11,72%. O aposentado Carlos Alberto Soares, 64 anos, diz que só a mulher tem plano. Ele paga para ela, mas não pode pagar um para ele. Em sua opinião, o resultado da inflação do idoso "é só estatística", pois sente no bolso a alta dos preços.

A aposentadoria mensal de Soares, de R$ 1,1 mil, não é suficiente e a esposa faz salgadinhos para complementar a receita da família. "Com o meu orçamento, esse resultado da inflação não bate." Ele diz que as taxas vêm subindo e é difícil controlar os gastos com eletricidade nos dias de forte calor, quando é necessário ligar o ventilador e o ar-condicionado para dormir.