Título: Corante pode elevar custo do álcool
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/01/2006, Economia & Negócios, p. B3

Por ordem da Agência Nacional de Petróleo, produto começou a ser utilizado ontem para evitar fraudes

A Agência Nacional do Petróleo (ANP) admite que a adição de corante ao álcool anidro, que entrou em vigor ontem para inibir fraudes no setor, pode resultar em mais aumento de preços para o consumidor. O superintendente de Abastecimento da agência, Roberto Ardenghy, concorda com avaliação do mercado de que a redução das fraudes e da sonegação no setor terá impacto nos preços. O corante foi adotado pela agência reguladora para tentar diminuir o avanço do chamado "álcool molhado", em que fraudadores compravam álcool anidro - usado na mistura da gasolina - nas usinas, sem alguns impostos, e misturavam água, transformando-o em álcool hidratado, que abastece carros.

Sem alguns impostos, o álcool combustível chegava aos postos mais barato, mas com qualidade duvidosa. Por isso, a ANP decidiu colocar um corante no álcool anidro, evitando que este seja transformado em hidratado.

Segundo Ardenghy, com mais empresas pagando impostos e operando no mercado formal, a tendência é que o volume de álcool artificialmente barato, por conta de sonegação e adição de água, seja reduzido, puxando o preço médio do mercado para cima. "Vai provocar aumento de preços, mas por um bom motivo, que é a melhoria da qualidade do combustível", opina Ardenghy.

Ele estima que a adição do corante é suficiente para inibir 80% das fraudes hoje recorrentes no mercado de álcool. Os últimos dados obtidos pela ANP já apontam melhora. Segundo o boletim de qualidade elaborado uma vez por mês pela agência, o índice de adulteração no combustível vendido em São Paulo caiu de 11,1% em novembro para 6,2% em dezembro.

Ardenghy destaca que a adição do corante não deve provocar aumento de custos, já que o produto custa apenas R$ 0,00075 por litro. Mas ele admite que a proximidade do início da adição contribuiu para a escalada dos preços nas últimas semanas. "Há notícias de distribuidoras que anteciparam encomendas para comprar o máximo volume possível de álcool sem corante", explica.

O produto seria usado para manter as fraudes durante algum tempo após a adição do corante. Segundo o superintendente da ANP, a agência não tem poder de intervir nesse tipo de operação, uma vez que o mercado é livre.

Um indício da fraude estão nas vendas, pelas distribuidoras de álcool hidratado, que deveriam subir com o número de carros bicombustível no mercado. Mas durante boa parte do ano passado a venda do combustível ficou abaixo da registrada em 2004. Sinal de que uma parte do mercado foi atendida com álcool molhado.