Título: Nos territórios palestinos , caos e incerteza sobre a eleição parlamentar
Autor: Daniela Kresch
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/01/2006, Internacional, p. A12

A menos de 20 dias para as eleições parlamentares palestinas, o afastamento do primeiro-ministro Ariel Sharon do poder torna mais complexo o quadro político nos territórios ocupados por Israel. Há grande incerteza sobre se o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas, adiará a eleição, marcada para o dia 25. Ele indicou na semana passada que poderia fazer isso se o governo israelense mantiver a proibição de voto para os palestinos residentes em Jerusalém Oriental (ocupada por Israel desde 1967).

A desordem na Faixa de Gaza e a possibilidade de o grupo islâmico Hamas vencer as eleições - derrotando o grupo no poder, a Fatah - seriam, na verdade, os motivos que poderiam levar Abbas a adiar a votação.

Um fato positivo esta semana foi uma declaração do ministro da Defesa de Israel, Shaul Mofaz, hoje um dos cotados para suceder Sharon na liderança do partido Kadima. No ano passado, o governo israelense insistia que era inaceitável a participação do Hamas nas eleições (o grupo foi responsável pela maioria dos atentados terroristas em Israel na última intifada, iniciada em setembro de 2000).

No entanto, na quarta-feira, coincidentemente horas antes de Sharon ser internado, Mofaz fez uma declaração surpreendente: Israel estaria disposto a negociar com o Hamas, se ganhar as eleições parlamentares, desde que o grupo aceite desarmar-se. O país sempre se negou a negociar oficialmente com o grupo, que não aceita a existência de Israel.

Nos territórios, os preparativos para as eleições continuam. Ontem o Parlamento Europeu anunciou que enviará 25 pessoas para monitorarem a votação. Elas trabalharão em conjunto com 172 observadores de outras instituições da União Européia. O Brasil também enviará uma delegação.

Ontem a Grã-Bretanha orientou seus cidadãos a deixarem a Faixa de Gaza, a menos que disponham de guarda-costas permanentemente.

Na semana passada, três britânicos permaneceram por 48 horas seqüestrados. Na quinta-feira, a polícia palestina soltou um dos suspeitos da ação, por causa da pressão de seus correligionários.

Gaza permaneceu ontem relativamente calma, depois de dias marcados por seqüestros e lançamento de foguetes contra Israel.